O Pio do Mocho
“Já vou, mãe!” - Mais parecia um grito da liberdade já encontrada e impossível de desprezar. Não houve lugar a despedidas provocadoras de solitárias lágrimas, apesar dos seus aproximados doze anos.
Certo dia viu chegar aquele homem estranho às gentes da terra - ourives ambulante que se fazia transportar num jumento -, para logo despertar nele o desejo de partir… Sem demora foi feito o ajuste para ir de abalada com o desconhecido, deixando para trás a sua terra de coisas pequenas e de esperanças curtas.
Anos mais tarde, já com auréola de ourives conceituado, Belmiro decide voltar à terra que o viu nascer. Estabeleceu o seu negócio e oficina em Sobradelo, a curta distância da igreja.
Nesse regresso sentia-se feliz, longe de imaginar que seria alvo de obsessiva paixão amorosa; que testemunharia, condoído, ao desespero de fugitivos espanhóis; que se veria envolvido em transações de ouro e prata com destino a uma das fações da guerra civil espanhola; e, quando supunha ter alcançado a felicidade, apenas lhe restam lágrimas banhadas a ouro, cadenciadamente acompanhadas pelo pio dos mochos, a indiciarem que algo está para acontecer
Lamentava não poder dizer à mãe: Voltei!
António Assunção nasceu na Póvoa de Varzim.
Vencedor do Prémio Literário Fundação Dr. Luís Rainha/Correntes d’Escritas 2021, com a obra “Como Ondas de Mar”.
Obras publicadas:
“O Pio do Mocho”, romance, 2023, Editora Chiado Books.
“Traquinices do Quincas no Talasnal“, aventura infantojuvenil, 2022, Editora Flamingo
“Como Ondas de Mar “, Edição Fundação Dr. Luís Rainha, 2022
“O Espada a Rasto”, romance, 2019, Editora Chiado Books.
•Incluído nos volumes XIII e XIV (2021 e 2022) da Antologia de Poesia Portuguesa Contemporânea “Entre o sono e o sonho”, com os poemas “O que em ti me conquista” e “A folhagem amarelenta da idade”. Ed. Chiado Books.
•Premiado no Concurso Literário “António Mendes Moreira “, 2022, no tema “Lugares” patrocinado pela Câmara Municipal de Paredes.
•Premiado no Concurso Literário de Tema Queirosiano, com “O Regresso de Eça”, comemorativo dos 150 anos de nascimento de Eça de Queirós, 1995, em organização da APC e Câmara Municipal da Póvoa de Varzim.
A escrita teatral assume relevância, com destaque para o título levado à cena, em 2009, “Há Pastéis em Santo Tirso”.
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