Exposição 'Da Ucrânia com Amor' e conversa com o fotógrafo Adriano Miranda

A Biblioteca Municipal José Régio acolhe a exposição do fotojornalista Adriano Miranda "Da Ucrânia com Amor", de 2 de novembro a 3 de dezembro.

Este trabalho testemunhal composto por fotografias e crónicas de guerra da autoria do fotojornalista Adriano Miranda, escritos a partir da Ucrânia e publicados no jornal Público entre 1 e 11 de março, lança um olhar atento e sensível sobre o conflito que marca o regresso da guerra Europa. Trata-se pois, de uma exposição onde a imagem e a palavra, em português, entre ucraniano e inglês, se entrelaçam para convidar a uma reflexão sobre o momento presente e, sobretudo, uma homenagem a todas as vítimas, deixando um apelo à paz e à tolerância.

A inauguração acontece às 21h30 do dia 2 de novembro, e está agendada para o dia 25 de novembro uma conversa com o cronista Adriano Miranda, no âmbito da iniciativa "Sexta com...".

A exposição "Da Ucrânia com Amor" é uma atividade no âmbito da FotografiaVC - Ciclo de exposição em parceria com a Câmara Municipal de Vila do Conde e em colaboração com a Biblioteca Municipal José Régio.

As fotografias que não fiz (Adriano Miranda)

Do céu frio da Polónia, a neve enche as ruas de branco. A cor da paz. O taxista avança à fronteira com a Ucrânia. Um homem calmo. Deseja felicidades. A mala rola pelo meio de gelo, pernas, pedras e lixo. Os refugiados veem na Polónia a terra dos suplícios e dos abraços.

O corredor entre o gradeamento e uma espécie de terra de ninguém é longo. Por fim, uma roleta de metal. Lá dentro uma mulher limpa o chão com brio. O passaporte é validado pela polícia mudo. Homens ucranianos regressam ao seu país. Querem só combater.

Como pernas inicialmente um fraquejar. As mãos que puxam a mala azul-escura e agarram a mochila com as minhas armas – como máquinas que usam para fotografar gente feliz – ficam transpiradas.

Polícias armados da cabeça aos pés. Civis com cassetetes e tacos de beisebol. Do meu lado esquerdo, milhares de seres humanos de pele escura. Sonham sentir os flocos de neve do outro lado. Encurralados. Empilhados. Uns desmaiam. Outros têm fome. Frio. Fixam o olhar em mim.

Sinto vergonha. Fraquejo. O lixo não deixa ver o chão. Quero gritar. Fotografar para denunciar.

Os homens das armas são corpulentos. Sou um cobarde. Os olhos estão turvos. A mulher loira, bonita, carimba o passaporte com força – bem-vindo à Ucrânia.

O peito apertou. Como é possível. Os autocarros com peles brancas vão chegando. Não vão ver o desespero dos seus semelhantes. Um ucraniano vai para Lviv na sua carrinha. Saboreio o encosto do banco e encosto a cabeça ao vidro. Durante vinte e cinco quilômetros, do outro lado da estrada, só vejo automóveis em fila parada. Querem atravessar a linha que lhes dará segurança. Os pele escura caminham a pé com a mala na cabeça. Adormeci. Acordei com homens corpulentos de coletes verdes. Pneus, sacos de areia e ferros torcidos estreitam a estrada. Imprensa. Passaporte. A estrada contínua para o. Deixou de Nevar.

Sobre o fotógrafo Adriano Miranda

Fotógrafo do jornal Público desde 1996, editor de fotografia de 2001 a 2005. Professor de Fotografia, no AR.CO, CENJOR e ESMAE. Atualmente leciona no IPCI-Porto e na Escola Superior de Jornalismo - Porto.

Participou em várias exposições na América Latina e na Europa. Vencedor do Prémio na categoria de Retrato da Estação Imagem 2011, Prémio Gazeta 2017, Prémio de jornalismo da Rede Europeia Anti-pobreza 2019, 2020 e Menção Honrosa em 2021.

Biblioteca Municipal José Régio

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