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Vento

Vento

Vento Exposição de Pedro Barateiro e Mário Varela Gomes

Inauguração 8 de Julho 2022, 18h Patente de 9 de Julho a 10 de Setembro de 2022

Aberto ao público: Quarta – Sábado | 15h – 19h

O HANGAR – Centro de Investigação Artística apresenta Vento, uma exposição de Pedro Barateiro e Mário Varela Gomes. Pedro Barateiro convidou o arqueólogo e fotógrafo Mário Varela Gomes a apresentar uma série de fotografias, tiradas em Lisboa nos dias 25 e 26 de Abril de 1974. As fotografias documentam a ocupação às instalações da Comissão de Censura, na Rua da Misericórdia, por um grupo de pessoas que entram nos escritórios e lançam pela janela provas de censura. O registo deste momento é o ponto de partida para uma reflexão sobre as várias crises engendradas pelos vários regimes totalitários desde o início do capitalismo moderno e colonial, e a forma como estes ainda se manifestam no presente. As fotografias de Mário Varela Gomes são uma ferramenta para examinar a nossa relação com os imaginários pessoal e coletivo, e tal como as esculturas da série Bússola de Pedro Barateiro, servem para questionar a desorientação e a falta de engajamento político nas discussões públicas. As fotografias da ocupação às instalações da Comissão de Censura servem para lembrar que devemos usar factos contra a ignorância, especialmente à luz dos acontecimentos de violência sistemática, no que diz respeito à ideia de “liberdade de expressão”. A necessidade de trazer para o presente as fotografias de Mário Varela Gomes, deverá servir para questionar a redução do espaço de discussão dentro das sociedades ocidentais, onde a “liberdade de expressão” é publicitada nos media e nas redes sociais que sabemos estarem dependentes de algoritmos manipulados para maximizar lucro privado. Esse questionamento é mais do que necessário num momento em que a apatia produzida pelas políticas repressivas e pelo entretenimento é tão paralisante.

O título da exposição remete para a importância do vento na forma como este recurso natural foi manipulado desde a campanha colonial portuguesa. Os desenvolvimentos científicos que permitiram o aparecimento de novas ferramentas de navegação, tal como o domínio das correntes de água, levaram um grupo de seres a massacrar, escravizar e contaminar outros com o propósito de os “civilizar”. Como a narrativa nos conta, este é o início da globalização moderna e do capitalismo, que se expande desde o século XV. A cultura europeia ocidental, baseada na tentativa do domínio da natureza através da agricultura, foi planeando uma expansão dos seus dogmas. Aparentemente libertado da religião, o desenvolvimento da ciência, bem como os mitos centrados no ser humano — e as suas múltiplas ficções — ajudaram a expandir a ideia decapital subjetivo privado como última forma de emancipação da mente e do corpo humano. A cultura foi forjada e manipulada por mentes humanas, realizada por corpos reprimidos. Uma cultura onde a repressão foi estabelecida e acarinhada levou a uma objectificação dos corpos humanos e não humanos através da arte e da ciência. A produção de objetos tornou-se uma obsessão e os espelhos foram aperfeiçoados para acompanhar e cumprir uma expansão cada vez maior do olhar humano. O choque era inevitável: um choque do próprio ser humano, do não humano, e do ambiente que o rodeia.

A exposição será acompanhada de textos de Marta Lança e Gisela Casimiro, um programa público a anunciar e uma edição de um poster com design de Márcia Novais. A exposição foi produzida em colaboração com o CRAC Alsace.

Em antecipação da exposição, no dia 7 de Julho às 20h30, Pedro Barateiro apresenta a peça sonora Love Song, em sessão live no contexto da residência Living Room no Cosmos, em Campolide.

BIOGRAFIAS Pedro Barateiro (Almada, 1979) trabalha numa variedade de suportes, incluindo escultura, cinema, performance, escrita e desenho. O seu trabalho tem-se centrado na desconstrução de narrativas binárias ocidentais. Barateiro organiza eventos e exposições na Spirit Shop, espaço gerido por si e anexo ao seu atelier na Rua da Madalena em Lisboa. Em 2020, juntamente com um grupo de artistas, iniciou a AAVP - Associação de Artistas visuais em Portugal. Realizou exposições individuais no CRAC Alsace (2022), Kohta (2022), Rialto6 (2021), REDCAT (2016), Museu Coleção Berardo (2015), Kunsthalle Basel (2010), Kunsthalle Lissabon (2010), Lumiar Cité (2010), Museu de Serralves (2009), entre muitos outros. Participou em exposições coletivas como a 13ª Bienal de Sharjah (2017), 20º SESC - Videobrasil (2017), 29ª Bienal de São Paulo (2010), 16ª Bienal de Sydney (2008) e 5ª Bienal de Berlim (2008). Barateiro editou os livros Temporary Collaborations e ACTIVITY (JRP|Ringier) com o artista Ricardo Valentim. Editou a monografia How to Make a Mask, (Kunsthalle Lissabon/ Sternberg Press), The Artist as Spectator e É só uma ferida (Documenta/ Mousse Publishing).

Mário Varela Gomes (Lisboa, 1949) é arqueólogo e professor. Licenciou-se em Arquitetura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, em 1976, e doutorou-se em Arqueologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, em 2010. Docente do Departamento de História da FCSH da UNL, membro da Academia da História, Academia Nacional de Belas-Artes e Associação dos Arqueólogos Portugueses. Foi professor do mestrado em Ecological Architecture & Heritage Studies in Biospheric Design, do San Francisco Institute of Architecture (1995) e da pós-graduação em Arqueologia e Património da FCSH da UNL. Autor de projetos nas áreas do Planeamento, Arquitetura e Musealização, tendo o Museu de Silves (de colab. com M. L. Janeiro) recebido o Prémio de Defesa do Património Cultural (SEC 1992). Em 2003, recebeu o prémio para a Arqueologia da Academia Portuguesa da História, ano em que também foi distinguido com a medalha de mérito, de prata, pela Associação dos Arqueólogos Portugueses, pelos trabalhos de musealização ali efetuados.

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