O Teatro Nacional 21 volta a Viana do Castelo com a apresentação do espetáculo Orlando, com direção de Albano Jerónimo, dias 9 e 10 de junho, às 21h00, na Sala Principal do Teatro Municipal Sá de Miranda. Um espetáculo imperdível com texto de Cláudia Lucas Chéu a partir de Orlando de Virginia Woolf e interpretação de André Tecedeiro, Aurora Pinho, Cláudia Lucas Chéu, Diego Bragà, Eduardo Madeira, Luís Puto, Madalena Massano, Maria Ladeira, Pedro Lacerda, Rita Loureiro, Solange Freitas. Atrevemo-nos a dizer que são os processos de travessia que melhor nos permitem compreender a transição política global que enfrentamos. A mudança de sexo e a migração são as duas práticas de travessia que, ao porem em xeque a arquitetura política e legal do colonialismo patriarcal, da diferença-sexual e do Estado-nação, situam um corpo humano vivo nos limites da cidadania e até do que entendemos por humanidade. O que caracteriza as duas viagens, para além do deslocamento geográfico, linguístico ou corporal, é a transformação radical não só do viajante, mas também da comunidade humana que o acolhe ou rejeita. O antigo regime (político, sexual, ecológico) criminaliza todas a práticas de travessia. Mas onde a travessia é possível, o mapa de uma nova sociedade começa a ser desenhado, com novas formas de produção e de reprodução da vida. A transexualidade e as questões de género ainda incomodam muita gente. E como seria há um século? Supomos que seria um não-tema, por ser literalmente abafado. Todavia, em plena década de 1920, a temática pareceu relevante a Virginia Woolf. Com uma atitude muito à frente do seu tempo, típica dos génios, escreveu Orlando — uma biografia fictícia onde aborda estas questões de forma subtil e irónica. Em Orlando, conta-se a história de um inglês nobre que passa por inúmeras experiências de vida. Quando completa 30 anos, acorda com o corpo de uma mulher. O que surpreende não é a simples transição de sexo, mas a forma como Woolf narra essa mudança. Ao contar a transformação de Orlando, o texto faz uso de uma ironia propositadamente exagerada com o objectivo de chegar ao seu contrário — à verdade e à franqueza. O que fica claro, e inequivocamente evidente, é que não existe imutavelmente homem ou mulher. A transformação é possível porque o fundamental é a liberdade da pessoa — do espírito e da inteligência. Um homem e uma mulher não têm de ser prisioneiros de um género pré-definido. Nem ser julgados e/ou postos como alvos do ódio, apenas por reclamarem liberdade sobre o seu próprio corpo. Na noite de 12 de Junho de 2016, o norte-americano de origem afegã Omar Mateen, de 29 anos, entrou armado na discoteca “Pulse” em Orlando, no centro da Florida, e disparou contra os presentes. As vítimas participavam numa “Noite Latina” organizada pela discoteca, frequentada por homossexuais, lésbicas, bissexuais e transexuais. O ataque foi considerado o pior com arma de fogo na História recente dos Estados Unidos. A Teatro Nacional21 pretende misturar as duas narrativas — a literária de Virginia Woolf e a documental do massacre em Orlando — criando duas travessias que se cruzam. A travessia é o lugar da incerteza, da não-evidência, do estranho. E tudo isso não é uma fraqueza, mas um poder. “O pensamento do tremor”, diz Glissant, “não é o pensamento do medo. É o pensamento que se opõe ao sistema “. Texto: Cláudia Lucas Chéu a partir de Orlando de Virginia Woolf Direção: Albano Jerónimo Dramaturgia: André Tecedeiro, Albano Jerónimo, A. Baião-Pinto, Cláudia Lucas Chéu Com: André Tecedeiro, Aurora Pinho, Cláudia Lucas Chéu, Diego Bragà, Eduardo Madeira, Luís Puto, Madalena Massano, Maria Ladeira, Pedro Lacerda, Rita Loureiro, Solange Freitas Participação Especial: Francisca Jerónimo Movimento: Carlota Lagido Assistência ao Movimento: Joana Castro Espaço Cénico: Tiago Pinhal Costa Construção Cenografia: Tudo Faço Figurinos: Carlota Lagido Desenho de Luz: Rui Monteiro, Teresa Antunes (assistência) e Outcube – Stage & Lighting Design (assistência) Composição Musical: Rui Lima & Sérgio Martins Direção Sonora e Desenho de Som: Bernardo Bento Assessoria Artística: Nuno M Cardoso Assistência de Encenação: Luís Puto, Afonso Abreu (estagiário) Suspensão: Laboratório Assistência deFigurinos: Sandra Guerreiro Direção de Cena: Marta Pedroso, Inês Matos Comunicação e Assessoria de Imprensa: Sara Cavaco Design Vídeo: Oskar & Gaspar Caracterização: Sérgio Alxeredo, Ana Steiner Vídeo Documental: Oskar & Gaspar Fotografia de Cena: Susana Chicó Fotografia de Cartaz: Rui Palma Traduções: Ana Magalhães Programa Paralelo Comunidade: Sara Cavaco Direção de Produção: Francisco Leone Assistência à Direção de Produção: Bruno Rosa Produção Executiva: Luís Puto Produção: Teatro Nacional 21 Coprodução: CCVF – Guimarães, Casa de Artes de Vila Nova de Famalicão, Teatro Municipal do Porto, Teatro Nacional D. Maria II, Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana, Centro de Artes de Águeda Duração: 140 minutos s/ intervalo (aprox.) Classificação Etária: M/14 O preço dos bilhetes varia entre os 4 e os 10 euros e podem ser adquiridos na BOL - Bilheteira Online e na Bilheteira do Teatro Municipal Sá de Miranda.