Sala da Nora
De terça-feira a domingo, das 14h às 19h.
Abertura às 17h30 de dia 19 de Abril
Na sua conferência A Ideia de Europa, George Steiner defende, logo no início: “A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes estendem-se do café lisboeta preferido de Fernando Pessoa aos cafés de Odessa frequentados pelos gangsters de Isaac Babel”. Este impulso longo define de forma muito precisa as possíveis referências longitudinais para a ideia de Europa que o autor procura com a sua conferência.
O que se pode observar na Sala da Nora, nestes dias, não é uma exposição, embora pareça. O artifício dos painéis e da iluminação. As ilustrações aí colocadas pressupõem o visitante como intérprete, no mínimo como leitor de uma aparente ficção, uma encenação que nos remete para a reflexão. Já todos percebemos a distância quilométrica entre Castelo Branco e Mariupol. O desafio que estes ilustradores nos colocam é a possibilidade de fuga à banalização das imagens e das palavras que têm construído muito do espaço público nas últimas semanas.
As estórias e narrativas, as posições de cada um, o olhar empático perante a violência, a destruição e a morte são uma das faces desta realidade que muitos julgavam improvável neste dealbar do século XXI. Outra face, é a acção, o comprometimento activo de muitos, doando bens, recebendo refugiados ou participando em manifestações mais ou menos impactantes.
Estas ilustrações, mais do que um tomar partido pelo lado certo da guerra, são um grito de alerta, procurando convocar o visitante para um diálogo. Cada uma representa um processo de construção mental que o criador teve de percorrer, para conseguir transformar a paisagem urbana por eles tão olhada e interpretada, tão vivenciada como extensão do espaço para a paz, num campo para a batalha da transformação interior.
Tal como as mãos pegam nas armas, carregam nos botões que significam o terror garantido algures, estas percorreram este difícil caminho, uma manualidade semente de humanidade e criam no nosso olhar a possibilidade do espelho, que se quer tão lúcida como a reflexão de Steiner ao descodificar a Europa, através da cafetaria.
Quatro mil, duzentos e quarenta Km separam Castelo Branco de Mariupol, cidades de uma Europa à beira da vertigem ou, há quem prefira, do precipício.
A foto que ilustra o evento é de Viktor Hesse e corresponde ao Mar de Azov, a partir de Mariupol, Ucrânia. O texto é de Carlos Semedo.
