Heráclito de Éfeso (aproximadamente 500 a.C – 450 a.C.) terá dito, um dia, que “nunca nos podemos banhar duas vezes nas águas do mesmo rio”. Tudo flui, tudo se transmuta. Será que um dos antecessores do mais célebre ateniense teria razão? Quantas dores, emoções, reminiscências, alegrias, nunca as mesmas, nos assolam ao longo das nossas vidas? Não sei. E desconheço que alguém o saiba, provavelmente nem sequer os homens que praticam as chamadas ciências mais exactas! Mas o filósofo deveria ter razão. Quando ouvimos, cheiramos, vemos, tacteamos, provamos, mesmo que seja o acepipe preferido, num dia claro e cheio de sol, as emoções são tantas vezes tão díspares, das de um dia de rotina, ou até sombrio. Quando recebemos uma boa notícia, podemos entrar num êxtase, que se destruirá, se porventura, presenciarmos um momento aflito de outro ser. Heráclito, a final tinha razão, as águas correm sem cessar no Nilo, no Mississippi, no Amazonas, no Elba, mas quando entramos e saímos delas deixamos de ser a mesma pessoa. Paula Serra, 59 anos, nasceu em Coimbra. Jornalista freelancer, licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Português/Francês), UC. Mestre em Desenvolvimento e Cooperação Internacional, ISEG /UL. Escreveu dois livros, ganhou primeiro prémio de jornalismo - com reportagem escrita na Revista Visão sobre o Afeganistão no pós11 de Setembro de 2001- do Clube de Jornalistas. Desenha desde os 19 anos. Esta é a primeira mostra do seu trabalho. Desenhos Paula Serra Texto Paula Serra Instalação Manuela Serra