Este ciclo propõe, ao longo de 2021 e 2022, criar um espaço de confluência de duas áreas artísticas, muitas vezes, distintas – a música e a performance – em seis sessões, constituídas por três apresentações, de entrada gratuita. Contando sempre com um concerto e uma performance por sessão, cada uma dessas sessões será subordinada a um tema específico a ser trabalhado peles artistas intervenientes: Corpo, Empatia, Lugar, Força, Movimento e Projecção. Seis problemáticas que na sua individualidade e pertinência permitem aos artistas, e por conseguinte ao público, reflectir sobre as suas vivências, anseios e expectativas particulares, desafiando as lógicas internas estabelecidas e refutando as concepções estanques e desadequadas que parecem permanentemente instituídas nos cânones históricos e sociais, ao mesmo tempo que se alinham em direcção a um plano comum: a conjectura do presente como plataforma para um futuro. Esperemos então que este seja um pequeno mas importante passo para uma partilha de ideias mais rica e multifacetada, onde diferentes visões da sociedade colidem e se enredam numa narrativa ampla e continuamente aberta a novas possibilidades. Para esta segunda sessão convidámos Pascal Ansell e nëss a explorar formas possíveis de empatia. Com o apoio da DGArtes Grafismo por Cláudia Lancaster ------------------------------------------------------------------------------ Pascal Ansell Criador do Café Bataille, Pascal Ansell tem difundido leituras sobre o Tarot de Marseille, teoria crítica e filosofia. A sua palaestra em quatro partes apresentada na Zaratan lidou com a alquimia interior, o 'sub-real' e o simbolismos das excreções corporais, enquanto que o seu curso de meditação na Cité international des arts em Paris explorou a alquimia interior em acção. Actualmente escreve para o jornal activista Peace News e actua como Panelak. Tendo explorado a poética do pensador surrealista George Batailles em Paris e Arles com o seu grupo de filosofia do Café Bataille, Ansell regressa à capital para se entregar à premissa da Empatia. Com esta residência, Ansell procura indagar os limites da empatia enquanto escolha ética, baseando-se na filosofia e na psicologia evolucionária como via para explorar formas radicais de escuta empática, como postulado pelos anarco-cristãos, os Quakers. O que podemos aprender daqueles que nasceram sem empatia, e quando é preferível não empatizar? O filósofo Eduard Glissant propõe um encontro com a opacidade - em relação ao Outro - que corta as vazas à empatia; talvez o acto de maior compaixão seja reconhecer a distância e a diferença. Iremos ver o que uma anfetamina psicadélica, o indutor de coração cheio que é o Ecstasy, nos pode ensinar sobre a comunhão enquanto perda do "eu". A influência deste chamado "empatogénio", usado por místicos e clubbers, ao mergulhar em afinidades colectivas e relações de alegria. Quanto mais fundo escavamos nesta matéria mais nos enredamos num processo de reflexão histórica e mais a empatia nos diz sobre os nossos próprios corpos e a nossa alienação benigna das máquinas de carne que habitamos. nëss Orgulhosamente oriunde das Mercês na linha de Sintra e vértice do núcleo duro da família da Troublemaker Records, colectivo-editora cuja actividade muito tem feito por iluminar artistas POC e queer vedados a plataformas de exposição mais amplas, nëss escancara sem medos todas as fragilidades e anseios da sua identidade não-binária, queer e negra em canções carregadas de gente e vida. Reflexo bem pessoal das suas vivências, que das angústias da depressão e da dúvida procuram vislumbrar a esperança, os limites do perdão, arrepiar caminho. Tudo em sintonia com a temática deste ciclo. Das canções etéreas de um passado recente, entre a electrónica planante de 'andromeda' e a crueza folky de 'how much i cared will never reach it's peak', nëss apresenta-se agora numa formação de guitarra, baixo, bateria e violino que em termos logísticos resgata à memória os that dog. - e 'don't ask, it's rude' até pulsa com o mesmo fervor juvenil de 'Totally Crushed Out' - e tem linhagem indie passada aqui bem perto - da Bee Keeper à Cafetra - mas surge fora do contexto Belas Artes/Faculdade de Letras que habitualmente dá chão à apreensão pós-adolescente. É indie nascido por entre o betão dos bairros periféricos e dos skate parks, dos smartphones a bombar kizomba e trap, dos regressos sonâmbulos a casa de comboio, das famílias que não escolhemos e daquelas que nos acolhem, da honestidade. Acompanhade por Nany, HIFA e Ricardo Mendes, nëss oferece-nos as suas canções para que nelas nos possamos rever ou compreender. Empatia, portanto. Entrada livre. De modo a manter o espaço mais respirável mantemos uma lotação limitada, mesmo que não sujeita a lugares sentados, pelo que agradecemos a reserva para : concertosnasdamas@gmail.com