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Fúrias

Fúrias

"Escorraçadas do pecado e do sagrado Habitam agora a mais íntima humildade
Do quotidiano.
São Torneira que se estraga atraso de autocarro Sopa que transborda na panela
Caneta que se perde aspirador que não aspira Táxi que não há recibo estraviado
Empurrão cotovelada espera Burocrático desvario
Sem clamor sem olhar
Sem cabelos eriçados de serpentes
Com as meticulosas mãos do dia-a-dia
Elas nos desfiam Elas são a peculiar maravilha do mundo moderno
Sem rosto e sem máscara
Sem nome e sem sopro
São as hidras de mil cabeças da eficácia que se avaria
Já não perseguem sacrílegos e parricidas
Preferem vítimas inocentes
Que de forma nenhuma as provocaram
Por elas o dia perde seus longos planos lisos
Seu sumo de fruta
Sua fragrância de flor
Seu marinho alvoroço
E o tempo é transformado
Em tarefa e pressa
A contratempo.

Sophia de Mello Breyner Andresen | "Ilhas", Págs. 64 e 65 | Texto Editora, 1989

Criação: Ricardo Ambrozio
Interpretação: Celia Morris, Francisca Gonzalez, Massimiliano Arnone e Suevia Rojo

Fonte: http://www.cm-tvedras.pt/agenda/detalhes/115970
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