Basicamente a definição de melodrama refere uma obra, ou parte dela, em que o texto é declamado sobre música. Apesar de algumas óperas terem momentos de melodrama – Fidelio ou A mulher sem sombra, por exemplo – diversos compositores dedicaram a esta prática musical obras inteiras. Strauss compõe em 1896/97 sobre texto de Tennyson o melodrama , para voz e piano. A obra situa-se entre os poemas sinfónicos Assim falava Zarathustra de 1896, e D. Quixote de 1897 e, como estes, pode considerar-se já uma obra de maturidade para um compositor com 33 anos que tinha ainda uma longa e criativa carreira à sua frente. Foi com que Strauss obteve na altura um sucesso retumbante, ainda maior do que o conseguido com os poemas sinfónicos, tendo efectuado inúmeras tournées com o seu dedicatário, Ernst von Possart, actor e director teatral. é um dos mais longos melodramas existentes e um dos mais bem construídos. A temática remete-nos a Ulisses e Robinson Crusoe, mas a melancolia do marinheiro que perde e reencontra a família de novo formada, julgando-o morto, é totalmente romântica e encontra a sua confirmação genial na música de Strauss. O piano dá a chave, por assim dizer, a muitíssima coisa no texto, tornando-se um parceiro indispensável à leitura. Cada personagem tem musicalmente o seu “motivo conductor” e o entrosamento dos vários temas, tratado com uma modernidade romântica (uso o choque de conceitos propositadamente) típica do compositor, acaba por apontar o caminho a muitas obras cénicas tardias. Trata-se realmente de uma obra prima. Uma problemática interessante que distingue de forma óbvia a diferença entre a palavra dita e a palavra cantada é que, no primeiro caso, o compositor trata apenas de clarificar o significado do texto segundo a sua leitura pessoal, ouvida na parte instrumental, sem compor tendo em conta directa a sonoridade da língua, como acontece invariavelmente nos textos cantados. Isso dá a actriz e pianista uma responsabilidade acrescida uma vez que a música que ilustra o texto fornece a indicação segura do tipo de leitura pretendida, permitindo simultaneamente que este seja proferido na língua do país em que é interpretado sem “quase” causar dano à leitura feita pelo compositor. Não admira por isso que tenha sido abordado por um grande número de declamadores (entre actores e cantores) tão famosos quanto Claude Rains, Bruno Ganz ou Jon Vickers, Dietrich Fischer-Dieskau, Brigitte Fassbaender ou Gwyneth Jones que o interpretaram no original inglês e na tradução alemã, e pianistas como Glenn Gould, Emanuel Ax ou Wolfram Rieger. A obra nunca foi dada em Portugal e cabe-nos a nós, a mim e à Rita Blanco, a honra e a alegria de finalmente a estrear na tradução portuguesa de Vítor Moura. Como se costuma dizer: “Já não era sem tempo!” ( ) – – poema de Tennyson (tradução de Vítor Moura) ̧̃ - Rita Blanco / ̧̃ - Nuno Vieira de Almeida ̧̃: 60/70 minutos ̧̃ ́: M/6 ̧: 8 € / 6 € (para maiores de 65 e menores de 30 anos). Cartão de Amigo aplicável.