The Sound before the Fury sugere de imediato o cruzamento de duas das coisas de que mais gosto na vida: o cinema e a música.
The Sound before the Fury sugere de imediato o cruzamento de duas das coisas de que mais gosto na vida: o cinema e a música. Nesta simbiose, que tanto me agrada, encontro uma janela que se abre para a incrível descoberta do desconhecido. E aqui confesso o meu fraco conhecimento sobre Archie Sheep e relevo a oportunidade da conjugação destas duas artes que, de forma bem mais eficaz que a busca de uma qualquer playlist do "melhor do jazz”, permitem desafiar o ouvido e a memória, numa construção sólida e cheia de alma sobre a música e o artista.
88 minutos envoltos numa imensa energia musical e força espiritual, alinhadas com os ritmos do blues, do groove, do swing e do funk
O reencontro de Archie Sheep com Attica Blues - álbum gravado há 40 anos atrás que homenageia e engrandeça todos os envolvidos nos motins de 1971 na prisão de Attica, nos EUA, é o mote para a primeira obra de Lola Frederich e Martin Sarrazac. O seu resultado? 88 minutos envoltos numa imensa energia musical e força espiritual, alinhadas com os ritmos do blues, do groove, do swing e do funk, onde a câmara não mais é um objecto, mas antes algo tão natural como qualquer um dos 25 músicos presentes, que dialogam pautas que não sei ler, mas que claramente consigo sentir. E, confortavelmente instalada no vermelho aveludado, testemunho a música que ganha forma e corpo, a cada novo ensaio, a cada nota solta lançada ao ar numa livre construção do todo.
A alusão ao importante momento histórico ocorrido em 1971 na prisão de Attica, Nova Iorque, é brilhantemente introduzido no filme pelo recurso à palavra e ao discurso, conjugados com a música que acontece a cada instante entre Archie e a banda, proporcionando uma imensa profundidade que nos remonta para lá do presente, passado e futuro, onde cada qual, no seu pequeno mundo, se questiona quanto às suas próprias barreiras culturais e sociais.
A todos vocês, deixo o desafio de se permitirem contagiar pelo universo de Archie Sheep, pela sua música, pela sua magia, paixão, liberdade e contundente mensagem política presente em The Sound before the Fury, estreia mundial no Doclisboa, que repete hoje, pelas 19h45, no Pequeno Auditório da Culturgest.