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Música Florescente: à conversa com JEPE

Marcelo Magalhães


Ilustração de Luis Balboa

 

Depois dos relatos de um arquitecto português a viver na China, chega-nos uma entrevista de um DJ/produtor português a viver em Berlim: JEPE é o nome de código de João Silva desde os tempos dos Johnwaynes: começou na rádio em 1993, e em 1997 iniciou o seu percurso como DJ. Mas se é verdade que a sua história começou há muito, esta entrevista trata sobretudo de acontecimentos recentes e do futuro.

Actualmente radicado em Berlim JEPE é também A&R da Blossom Kollektiv, projecto que vai mais além de uma editora e que, apesar do sotaque português, se divide entre Berlim e Innsbruck. Faz todo o sentido conhecê-lo melhor, entender a sua visão da cena clubbing e ficar a saber o que é a Blossom Kollektiv, sucedendo-se esta entrevista ao 5.º disco da editora, o primeiro em vinil.

PLAY: JEPE Mixsession for Sweatlodge radio Berlin

 

Apesar de teres estado radicado em Aveiro, os Johnwaynes tiveram uma carreira internacional. Sentes que para isso foi crucial a edição de discos em selos internacionais? Para um DJ ser internacional, tem hoje em dia de ser produtor?

Absolutamente! Para serem "internacionais" e terem datas regulares no estrangeiro, os DJs devem, na sua maioria, apresentar um bom motivo para serem convidados a mostrar o seu trabalho no exterior. As suas produções são assim uma condição essencial para que tal aconteça. Existem excepções, mas estas resumem-se a casos específicos e não na verdadeira acepção do termo “internacional” com datas um pouco por todo lado. Obviamente os Johnwaynes só foram considerados internacionais depois de terem editado em selos estrangeiros e, fruto disso, as datas começaram a aparecer.

 

Passaste por uma série de cidades. Porque escolheste Berlim para a tua nova casa?

As duas principais razões foram a concentração de produtores, clubes, editoras e toda uma indústria associada à música electrónica. Berlim é como o Silicon Valley da música e das novas tendências, muita gente partilha da mesma paixão pela arte, pela cultura em geral, pela música e, no meu caso, pela música electrónica. É uma cidade maioritariamente de jovens, sem barreiras nem limites. A segunda razão diz respeito à localização geográfica: está no centro da Europa. Ao contrário de Portugal que está localizado num extremo, o que torna mais difícil as deslocações rápidas, quer pela distância quer pelos custos.

 

Vives desde Março de 2013 em Berlim: faz agora um ano. A cidade tem cumprido com as tuas expectativas?

Eu sabia que não iria ser fácil, como nada é fácil: um projecto como os Johnwaynes demorou 4 ou 5 anos a estabelecer-se. Comigo a solo espero não demorar tanto tempo, mas sei que vai demorar algum. Tem havido momentos excelentes, tenho conhecido muita coisa nova, mas sei também que estou entre os melhores, onde a concorrência e a exigência também são maiores.

 

Agora que saíste de Portugal, quais são, em retrospectiva, as maiores barreiras que um DJ e produtor enfrenta no nosso país?

Infelizmente, acho que em Portugal há uma grande falta de cultura no sentido lato. Não sou de todo fundamentalista da cultura nem defendo que o que é diferente e elaborado, alternativo ou erudito é que é bom. Pelo contrário, vejo a cultura em geral como uma forma de conhecimento e de experiências pessoais, umas com mais qualidade e interesse do que outras.

Em Portugal há ainda uma grande falta de abertura das pessoas em geral para ao que é novo ou diferente. Acho que aqui a culpa se reparte entre os agentes que a promovem (jornalistas, rádios, televisão...), os próprios músicos que muitas vezes não se "misturam", e o público. Este precisa, frequentemente, de um consenso colectivo para se sentir estimulado e dizer que gosta.

 

Em termos comparativos, que tipo de ecossistema te faria regressar a Portugal?

Não tenho planos para regressar, no entanto tento à distância contribuir para que em Portugal se crie a "nossa" cena, quer na relação anterior que tive com a Groovement e com a Bloop, quer agora via Blossom Kollektiv que, além dos artistas e amigos estrangeiros, pretende afirmar também a sua raiz portuguesa com edições de artistas nacionais.

 

Blossom Kollektiv é o teu novo projecto: como é que o descreves?

A Blossom Kollektiv surgiu há uns anos atrás na Áustria como produtora de eventos, um conceito que exploraria exactamente novas vertentes e, tal como o nome indica, um renascer, algo de novo, com uma identidade própria. Não é de todo algo novo ou original: acho que há muitos bons exemplos deste género pelo mundo da electrónica. No nosso caso, como editora, defendemos uma ligação transversal entre vários tipos de música, fusão e artistas sem preconceitos ou estilos definidos.

 


Quando nasceu a Blossom e quem são os outros envolvidos?

Nasceu em 2009, da vontade de um Português radicado há 20 anos na Áustria, que eu conheci há cinco anos atrás, e tornou-se editora em Junho de 2013, com a primeira edição. É actualmente um colectivo de pessoas mais ou menos chegadas, onde cada um tem a sua função e dá o seu contributo. Além de mim e do Miguel, temos o Rodrigo da Stimpy, que ajuda nos bookings e na coordenação, uma booker alemã, um outro alemão que ajuda em várias coisas, o Ka§par, também português, que está comigo no A&R e, claro, a colaboração dos artistas que vão editando connosco.

 

Qual é o teu papel na editora?

Basicamente é o de management e coordenação. Desde o A&R, que fazemos em conjunto, até ao o marketing, edição e distribuição. Sou também artista da editora.

 

Quais sentes que são, actualmente, os maiores desafios de uma editora independente?

Além da questão financeira, que inviabiliza muita coisa, o mais difícil é encontrar espaço. Encontrar uma posição e identidade no mercado da música electrónica. O mercado está cheio e saturado de editoras, portanto a tarefa e a missão de te diferenciares e seres notado é a mais difícil. Muitas vezes, como se costuma dizer, o difícil não é as pessoas gostarem, o difícil é chegar às pessoas e ter oportunidade de lhes mostrar o nosso trabalho.

 

Qual é para ti a importância que o vinil tem para uma editora de música de dança? 

Numa palavra, "essencial". Essencial porque as pessoas gostam de ter algo físico para coleccionar, tocar, cheirar, olhar e sentir. Essencial porque é um elemento de diferenciação do meio digital global, e essencial porque tem valor adquirido e futuro.

 

Que tipo de ligações é que a editora tem com as gentes de Berlim?

Tem várias. As gentes de Berlim são gentes do Mundo. A Blossom está gradualmente a criar o seu espaço neste eixo Berlim-Áustria-Lisboa. Estamos inseridos num mercado onde somos mais uma editora na cidade. Como o nosso primeiro disco só saiu em Junho de 2013, ainda há pouco a dizer e muito a fazer.

 

Na editora reúnes nomes como Ka§par e Daino. Consideras a Blossom uma espécie de embaixada lusa?

Como disse antes, isso faz parte da nossa missão. Em Portugal consome-se muita electrónica internacional, os principais clubes dão pouco espaço à produção nacional, e o público liga pouco à produção nacional a não ser que, por alguma razão, um artista português tenha sucesso internacional.

É curioso e triste, porque os Alemães promovem e têm orgulho no que é deles, tal como os espanhóis, os franceses, os ingleses… Em Portugal, no que diz respeito à electrónica, temos assistido a essa relutância durante últimos 15 anos. O Daino é um dos mais talentosos novos produtores portugueses, e o Ka§par, não sendo novo nestas andanças, é um artista com uma visão ímpar da música electrónica e de dança. Ambos vieram dar muito valor acrescentado à editora. E a Editora espera ajudá-los a atingir um maior reconhecimento.

 

Por falar no Daino, que é um jovem produtor, como chegaste até ele? O que te fez perceber que, apesar de ser um nome novo, valia a pena investir nele?

Foi através do KaSpar. Estamos juntos no A&R da label: do ouvir umas demos a trabalhar o produto final foi rápido. Foi opinião geral que é um trabalho que teria obrigatoriamente de ser mostrado ao mundo. As produções são muito maduras e o conceito estético também. Achamos que poderá futuramente estar ao lado dos melhores do Mundo.

 

 

Saiu a 16 de Dezembro o disco “Around the Edges”, do Daino. Como descreves o disco?

A sensibilidade musical do Daino transporta-nos imediatamente para as raízes musicais do techno e do house de Detroit. É um disco que combina a musicalidade do jazz com a intensidade e a frieza urbana do techno, neste caso americano. É um EP completo que mostra de imediato a identidade do Daino.

 

 

 

Depois da primeira festa em Lisboa com o live act de Daino, contigo e com o KaSpar atrás dos pratos, para quando poderemos esperar outra?

A festa que fizemos em Lisboa, a 24 de Janeiro, no Lounge, foi uma grande festa Blossom. Lisboa está com um público excelente e fomos muito bem recebidos. Esperamos voltar brevemente!

 

Já sei que lançaram agora um novo disco...

Sim, no dia 10 de Março saiu a nossa 5.ª edição. Esta é a primeira edição em vinil, e portanto uma edição especial, do também português Mastercris com a excelente vocalização da inglesa Kathy Diamond. As remixes são do alemão Matthias Vogt. Fechamos com este disco um capítulo em português por algumas edições.

 

PLAY: Mastercris - You´re The One (Original Mix)

 

Dizes que é um fechar de um capítulo em português. O que poderemos então esperar da Blossom nos próximos tempos? Ou, por outras palavras, o que a Blossom espera de si própria?

Continuaremos à procura, entre vários estilos de música, de produtores que preencham as nossa vontade de mostrar ao mundo algo sempre diferente no que diz respeito à electrónica.

 



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