Anja Schneider Uma máquina de movimento perpétuo. Assim lhe chamaram uma vez e parece fazer todo o sentido. Se não o seu, então que seja o nosso, por ela ajudado, porque Anja Schneider é daquelas que contribui de todas as maneiras que pode. É radialista desde o ano 2000, quando começou a partilhar nas ondas hertzianas alemãs o seu gosto e propostas musicais no programa “Dance Under The Blue Moon”, que ainda hoje mantém com o mesmo entusiasmo. Berlim não lhe ficou indiferente e foi inevitável a continuação do trabalho de Anja nos clubs, sem microfone mas com público sedento. Com Sebo K, iniciou-se no mundo da produção musical e daí até criar uma das mais bem-sucedidas editoras europeias do género foi um instante. A Mobilee, criação em parceria com Ralf Kollmann, nasce em 2005 para editar música sua, sim, mas também para acolher uma série de artistas que se tornariam identificáveis não só com Anja, mas com a própria discográfica: Ray Okpara, Rodriguez Jr, And.Id, Pan-Pot, Sebo K, Exercise One, e a lista continua. No meio de todas estas actividades, não hesita em afirmar que a música está sempre em primeiro lugar e merece todo o destaque. Não duvidamos – quem se entrega assim, de corpo e alma, fá-lo por uma causa maior. E dando-lhe a ela, à Música, o destaque que merece, toma a cabine para nos levar numa jornada sónica onde House e Techno de declarada influência europeia se cruzam, bebendo não só de influências minimalistas mas armando-se também não raras vezes de ritmos mais musculados, deixando no entanto no ar a ideia que o sintetizador é rei e que de texturas artificiais cria um leque de opções capazes de estimular não só corpo mas também mente. Com uma presença que transpira uma atitude “feel good” para a pista e uma mala de discos pronta a enfrentar os públicos mais exigentes, Anja Schneider parece daquelas pessoas que transforma até a mais aborrecida festa de garagem num evento de que as gerações futuras vão falar. Agora imaginem o que vai acontecer no Lux. Damos uma dica: melhor que imaginar, é ir dançar. Soundcloud :: https://soundcloud.com/anjaschneider Ray Okpara Não se pode dizer que o House tenha grandes tradições na Nigéria, mas as tradições criam-se e Ray Okpara é prova disso. Por detrás das grandes rastas e sorriso contagiante do meio-nigeriano, está alguém que leva o que faz bastante a sério e prova disso foi a rápida ascenção de Ray aos principais palcos mundiais. Ganhou gosto pelo DJing quando experimentou as primeiras misturas com a colecção de discos UK Garage do amigo Johnny D, mas não demorou até encontrar o seu próprio caminho e a envolver-se no meio começando a promover as suas próprias noites em clubes. Deu-se à composição e a sua música tornou-se parte de um importante circuito do fim dos anos 2000, assinando por editoras que se tornaram um marco, como a Drumpoet Community, Area Remote, Cécille, Oslo e, claro, a Mobilee, onde lançou há poucos meses um EP recheado de linhas ácidas e insinuações psicadélicas, “Midnight Protein”. Em 2010 funda o seu próprio selo, “Ama”, com vista a perpetuar o ciclo de divulgação de novos artistas e novos projectos. Ao comando da cabine, Ray apresenta um curioso balanço entre o hipnotismo e o estímulo. Percussões com texturas familiares e baterias quasi-orgânicas misturam-se com síntese, repetições arrastadas traduzem-se em tensão que desemboca numa súbita explosão energética. Tudo sem parecer forçado ou rígido mas sim fluente e sem esforço. Natural, como nos saem os melhores passos de dança, assim, sem pensar, num estado em que somos apenas trazidos ocasionalmente à realidade por um ou outro laivo de voz que desperta a atenção de uma mente já rendida. E se as tradições se criam, impera criar-se, nesta noite, uma nova: a de nos rendermos a Ray Okpara. As consequências apenas podem ser boas. Soundcloud :: https://soundcloud.com/rayokpara Textos : Inês Duarte
