23:45 até às 06:00
Noite HESSLE AUDIO com PANGAEA | BEN UFO | PEARSON SOUND

Noite HESSLE AUDIO com PANGAEA | BEN UFO | PEARSON SOUND

Hessle Audio

A influência e importância da Hessle Audio na música de dança do UK actualmente é tal, que talvez um dia (que ainda nos parece longíquo), em vez de ser enquadrada no redutor epíteto de “pós-dubstep”, se torne bem mais adequado e acertado falar num pós-Hessle Audio ou, como lhe chamou o conceituado jornalista musical Philip Sherburne ao falar da editora, “o género ao qual havemos de dar um nome mais tarde”. A verdade é que o selo fundado e gerido pelos três mosqueteiros que nos visitam nesta noite, Ben Thomson (Ben UFO), David Kennedy (Pearson Sound) e Kevin McAuley (Pangaea), desde a sua fundação em 2007, apenas tem tido como previsível a sua imprevisibilidade e como estilo, a total despreocupação com ter um estilo. Para isto contribui uma curadoria de lançamentos que parece feita com base no improviso, mas sobre a qual uma análise mais atenta revela um impecável controlo de qualidade e grau de exigência, face ao desfilar de nomes que já contribuiram para a label e que em muitos casos, com ela atingiram a notoriedade : James Blake, Blawan, Peverelist, Untold, Cosmin TRG ou Objekt, além dos próprios Pearson Sound e Pangaea, formam um plantel de respeito que fala por si. E aquilo que estes nomes não nos digam de imediato, completa-se na noção de que, embora no papel a música lançada na Hessle Audio não devesse funcionar junto de um público alargado, cada disco com o seu nome estampado é vorazmente aplaudido por quase todos. Não espanta assim que em tão pouco tempo o nome Hessle Audio já mereça figurar numa galeria de grandes selos da música electrónica ao nível de uma Warp ou uma R&S. Era por isso obrigatório o Lux abrir as suas portas de uma das suas “Label Nights” a uma das editoras mais em forma dos últimos anos. Catalogações? É house, é techno, é 2-step, é garage, e também não é nenhuma destas coisas. Arquivem-na antes na prateleira das “Essenciais”.



PANGAEA

Em termos de perfil mediático, Kevin McAuley é talvez o mais reservado e misterioso dos três cabecilhas da Hessle Audio. As pouquíssimas entrevistas dadas revelam uma figura modesta e avessa à auto-promoção e pouco confortável com a atenção que cada lançamento seu (e não são muitos) recebe. Mas em disco ou em pista, o seu discurso é fluído e substancial, e expressado em voz grossa. O nome que escolheu evoca enormes maciços de terrenos distintos a chocarem uns com os outros e em fusão, e é isso que se verifica na sua música também. Estilhaços de influências dubstep, grime, 2-step e industrial agrupam-se em redor de alicerces firmemente techno, em especial o techno clássico do UK que teve como pioneiros Surgeon, Regis ou James Ruskin que encontra o seu expoente no álbum “Release”, no EP “Viaduct” lançado na sua aventura editorial paralela, a Hadal (estes homens e a letra “H”...) e finalmente no portentoso e poderoso mix-CD para a prestigiada série FabricLive, FabricLive 73, acabado de aterrar com estrondo nas lojas. Como em quase tudo o que diz respeito à Hessle Audio, uma olhadela aos nomes presentes neste CD responde a quase tantas perguntas como levanta novas questões. Não haja dúvidas, é de techno do mais moderno e avançado que se faz de que se fala, e se o nome de guerra que Kevin McAuley escolheu nos remete para continentes à deriva e em choque movidos à força de terramotos, poucos são capazes de fazer a terra tremer como Pangaea.



BEN UFO

Aquando da sua estreia na pista da disco do Lux, numa noite RUSH em 2013, referimo-nos a Ben UFO como um verdadeiro extraterreste atrás dos pratos, mas de aparência bem terráquea. E o facto é que a sua prestação nessa noite comprovou o acerto desta designação. Mais cedo ou mais tarde, Ben Thomson teria de regressar, e dificilmente poderia haver melhor contexto para este regresso do que uma noite dedicada à label que ajudou a fundar. Ben UFO é o braço mais activista da divulgação da multifacetada identidade Hessle Audio, embora seja curiosamente o único dos seus três patrões que não produz e se limita à actividade de DJing e curadoria de lançamentos, em pista ou no muito apreciado programa de rádio da editora na rádio britânica Rinse.FM. Que não tenha necessitado de produzir música para se tornar o mais facilmente reconhecido (pelo público) dos três, é revelador da sua invulgar qualidade como DJ, reconhecida desde os meios mais mainstream até ao mais exigente dos especialistas, sejam eles músicos ou críticos. Ben UFO é habitante único do que é efectivamente um planeta só seu, que se imagina polvilhado de prateleiras e mais prateleiras de discos que vão do jazz ao techno, da música africana ao house, e uma série de OVNIs musicais de identificação realmente impossível. No seu centro, lá está Ben UFO, com dois gira-discos apoiados em pilhas de livros sobre música (pois é de um estudioso que se fala também), misturando com improvável fluidez e técnica assombrosa, uma faixa retirada de algum disco de música para rituais voodoo com alguma novíssima promo de techno ou house. Por detrás da sua aparência de jovem aprendiz, está um cosmonauta do áudio que nesta noite nos vai levar pelos mais fascinantes caminhos das estrelas.



PEARSON SOUND

Se Pangaea é o operário metódico da Hessle Audio e Ben UFO o seu cientista saudavelmente e jovialmente louco, Pearson Sound representa o mais perfeito destilar das características desta label estranhamente coerente dentro da sua esquizofrenia. É o mais activo no que à produção diz respeito, seja com o seu anterior (e mais “dubstepiano”) epíteto de Ramadanman, seja na sua experiência chicago-house como Maurice Donovan, ou na sua personalidade “tudo para dentro do lava-louça” enquanto Pearson Sound. Ritmicamente complexo, melodicamente refinado, esotericamente expressivo, David Kennedy é a estética da Hessle Audio elevada à sua máxima potência e significado. Tanto nos oferece faixas percussivas e tensas quase minimalistas como momentos de musicalidade de beleza arrebatadora que, se em teoria não parecem, na prática aplicada ao dancefloor, não falham no propósito de impulsionar os corpos à dança e as mentes à viagem. “Don´t Change For Me”, “Blanked”, “Starburst” ou “Faint” (com Joy Orbison e Boddika), tornaram-se hinos improváveis de uma certa forma de fazer música de dança no UK nos últimos anos, e as suas prestações enquanto DJ, como já tivemos oportunidade de testemunhar no Lux, tornaram Pearson Sound num alquimista de sons e cores capaz de transformar em ouro tudo aquilo em que toca numa noite.


Textos: Nuno Mendonça
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