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GREEN RAY*2014 | LUX curated by SVEN VÄTH

GREEN RAY*2014 | LUX curated by SVEN VÄTH

Sven Väth 
Lauer
Gerd Janson 


Sven Väth

A hora vai longa.
No piso térreo, centenas de corpos que durante horas dançaram como se nada mais no mundo importasse, desejam agora adiar o inevitável fim, a luz a entrar pela pista, o último disco.
“Sven”. É o nome que lhes sai repetidamente da boca, cantado em uníssono e de braços erguidos ritmicamente como que a querer tocar-lhe, mesmo que de longe, num exercício de quase tribalismo. É arrepiante testemunhar tamanha demonstração crua de agradecimento, reverência e urgência de mais.
Sven é Sven Väth e a cena descrita é retirada directamente de uma das suas actuações prévias por cá. Não é a primeira vez que está connosco e esta devoção é mútua – não é apenas a pista que clama por ele, mas também ele que declara o Lux como um dos seus clubs favoritos. E acreditem – em 32 anos de carreira,  já viu uns quantos.
Não terá sido propriamente ontem que viveu o início do movimento em Ibiza,  que foi peça-chave da evolução da música de dança alemã ou que tocou dois dias seguidos numa Loveparade, mas não dá sinais de querer parar. Sabe bem a libertação e vivência que a noite e a festa encerram, e é o primeiro a dar o exemplo. Olhá-lo na cabine é como ver um de nós, deliciado com toda a experiência, mas, ao mesmo tempo, assumindo uma enorme figura de líder. Ele, Papa Sven. É nele que podemos confiar e entregarmo-nos sem medos, e a responsabilidade de tal papel não lhe passa ao lado. Sven – que ainda se mantém um purista do vinil – surpreende repetidamente com uma mala de discos que parece ficar mais apurada de ano para ano, longe que está de ter ficado acomodada ao passar do tempo. Mais importante do que a técnica cirúrgica que possui é essa capacidade de juntar os discos improváveis com os que nos elevam do chão num piscar de olhos, de juntar um clássico esquecido com aquele tema que, daqui a uns meses, será obrigatório por todo o mundo.  Conduz-nos na dança como se fosse fácil pôr toda uma pista em sintonia, unindo desde os que o veem pela primeira vez até àqueles que recebe como se fossem velhos conhecidos.  E, na mistura de tudo, encontra o segredo da sua autenticidade: é festa, em si próprio e connosco, e poucos serão tão apaixonados como ele. Parece apenas sensato que voltemos a partilhar dessa paixão, desta vez sob a égide do raio verde. Confiemos – ele espera-nos de braços abertos.


Lauer

Phillip Lauer parece ter demasiada música dentro para se confinar a apenas um projecto. Com Gerd Janson, o outro convidado de Sven Väth nesta Green Ray, é Tuff City Kids. Com Christian Beißwenger, criou a personagem do produtor misterioso Arto Mwambé. A solo, é simplesmente Lauer, e é assim que chegará a Santa Apolónia.
Um miúdo com uma banda de guitarradas que se tornou DJ. A história não é inédita, e foi também a de Phillip quando finalmente nos anos 90 se permitiu a alargar os horizontes para além do hip-hop e do rock, e foi encontrar-se na música electrónica. O House chamou-o para si e, solto da agressividade de paragens anteriores,  foi mesmo ao que comummente se diz ser “deep”, que foi parar.  Encontrou profundidade e complexidade neste novo mundo musical, e trata de o traduzir duma maneira muito própria: melodias de encantar, arpejos cósmicos, baixos eficazes e uma programação rítmica reminiscente dos sons de Chicago, tudo isto é a identidade de Lauer  impressa nas edições que vai mostrando ao mundo, tanto na sua própria editora Brontosaurus, como em outros selos consagrados como a Running Back, Beats in Space, Permanent Vacation ou Live At Robert Johnson. Temas como “H.R. Boss” ou “Boshs” possuem a centelha própria que os faz brilhar tanto hoje como fará daqui a 20 anos, quando um qualquer jovem os voltar a descobrir talvez quase por acaso, ou um veterano for assolado por uma memória passada. E é essa mesma centelha que procura nos discos que escolhe para as suas noites como DJ. Garantidas estão propostas quentes e irreverentes, oscilando entre um House de mangas arregaçadas e um Disco rabugento, a encontrarem detalhes em comum que os fazem ir de mãos dadas espalhando pistas para a dança. Resta-nos segui-las.  


Gerd Janson

Podíamos chamar-lhe o homem dos sete ofícios, mas na verdade assim de cabeça não sabemos se sete chegavam. Para além de DJ, Gerd Janson é o patrão da influente editora Running Back.  Se o nome não vos chama à atenção, atentem em alguns dos artistas que por lá já deixaram a sua música: Lauer (com quem criou os Tuff City Kids), Theo Parrish, Prosumer, Redshape, Mark E, Tiger & Woods, Mathew Styles, Todd Terje, Tensnake ou Mr. G. Mas Janson não se fica por aqui e ainda tem tempo para dividir o trabalho numa loja de discos com o jornalismo musical e as responsabilidades na Red Bull Music Academy. São figuras como ele que criam constantemente um futuro para a música de dança, apostando firmemente naquilo em que acreditam ao invés da tentação do passageiro.
É o primeiro a dizer que não é músico e não distingue um Dó de um Si numa pauta. Não sendo músico é, no entanto, imensamente musical. Só assim se explica a proficiência como DJ, desmultiplicando-se em actuações globo fora para além da sua residência no Live At Robert Johnson, afamado clube de Frankfurt. A aptidão vale-lhe ser várias vezes mencionado como “o DJ dos DJs”, ao lado de nomes como Harvey ou Dixon, mas não é de todo necessário sê-lo para apreciar Gerd Janson. Longe disso, o seu objectivo é fazer uma pista mexer ao mesmo tempo que lhe mostra música maravilhosa, e a sua faceta de “digger” alimenta-o bem. Vem pronto a espalhar groove a quem o desejar receber e a converter até os mais cépticos, enredando-os pacientemente até que, quando dão por si, já é impossível sair duma teia de batidas certeiras e esboços melódicos que percorrem à vontade os caminhos entre designações musicais estritas. Ele é House, é Disco, e é até Techno disfarçado. É tudo isto e ainda mais: o resto, impera ser confirmado ao vivo.

Textos: Inês Duarte
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