18:00 até às 19:00
Villa-Lobos em Movimento

Villa-Lobos em Movimento

A PERFORMANCE . THE PERFORMANCE
Uma transcrição teatral-coreográfica da música de Villa-Lobos para guitarra clássica . A dance-teatre transcription of Villa-Lobos music for classical guitar.

Villa-Lobos em Movimento é uma releitura das peças do compositor para guitarra clássica, interpretadas também através da dança. O recital evolui a partir do reconhecimento das influências europeias levadas para o Brasil pela colonização portuguesa durante o reinado de D. João VI. Delas Villa-Lobos se apropriou, para as desconstruir e remodelar com uma intencional contaminação pelas tradições, folguedos e crenças populares criando uma obra genuinamente brasileira que vem influenciando várias gerações de compositores.

Villa-Lobos is the best known of the “nationalist” composers from Brazil. Villa-Lobos in Movement is a different approach to his pieces for classical guitar, using dance. The performance begins with Villa-Lobos paying tribute to the European influences taken to Brazil during the reign of the Portuguese king John VI (1808-1825). Villa-Lobos used them to deconstruct and reshape, with the intention to mix the European tradition with the Brazilian popular celebrations and beliefs. In this way he created an oeuvre that was genuinely Brazilian and that influenced several generations of composers.

PROGRAMA PROGRAM

PREÂMBULO » Estudo N º 4 em Sol Maior PREAMBLE » Etude nº 4 in G major

UM » Estudo nº 1 em Mi Menor ONE » Etude nº 1 in E minor
Para o compositor este estudo evoca o movimento das ondas do mar. Será uma alegoria ao mar como caminho para uma cultura estranha que se implantou na terra virgem que haveria de chamar-se Brasil. Atraída pela música uma bailarina vem ao palco buscar o som ao músico e com ele viajará sobre movimentos ondulantes de um mar imaginário.

In this etude the composer evokes the movement of the waves of the sea. It is an allegory of the sea as a way-in for a foreign culture that implanted itself in a virgin territory that was going to be named Brazil. Attracted by the music a dancer comes from the the stage to pick up the sound. With it she seems to travel on the waves of an imaginary ocean.

DOIS Prelúdio nº 3 em Lá Menor TWO Prelude nº 3 in A minor
homenagem a Bach
Há uma grande influência clássica europeia nas primeiras peças de Villa-Lobos e a paixão por Bach atravessa a sua obra, embora o impacto de compositores como Claude Debussy, Eric Satie ou Igor Stravinsky tenha também permeado a sua inovadora criação musical. Toda essa carga europeia foi paulatinamente invadida por referências brasileiras. Essa influência erudita europeia traduz-se numa bailarina que bebe pequenos goles de chá, uma alusão literal a uma ironia popular portuguesa que chama de “falta de chá” ao desconhecimento da cultura e regras de comportamento “europeias”.
homage to Bach
Villa-Lobos’ first works have been heavily influenced by European classical music. His work always reflects his passion for Bach, even though the impact of composers such as Claude Debussy, Eric Satie and Igor Stravinsky also shows in his own innovative musical creations. All these European influences were slowly invaded by Brazilian references. The metaphor for this European classical tradition is the dancer sipping tea, an allusion to a popular Portuguese joke: when somebody does not know the European etiquette people will say “What a lack of tea!

TRÊS » Choro Gavotte THREE » Choro Gavotte
Esta gavotte marcará o início do “desmame” das influências europeias. Vestindo uma crinolina estruturada, e colocando uma tradicional cabeleira branca armada e em cachos, a bailarina tenta reproduzir as marcações originais de uma gavotte tradicional, mas acaba por parecer ridícula na tentativa de reprodução de uma cultura que lhe é alheia.
This gavotte marks the beginning of the end of European influences. Dressed in a cage crinoline and with a traditional white powdered wig with curls, the dancer tries to reproduce an original gavotte, but in the end she looks ridiculous in her attempt to represent a culture that is not hers.

QUATRO Prelúdio nº 5 em Ré Maior FOUR Prelude nº 5 in D major
homenagem aos rapazinhos e mocinhas que frequentam os concertos e os teatros
Invoca-se a história da vida amorosa do compositor. Começa com o seu primeiro amor, a esposa legítima Lucília, uma pianista que lhe deu forte apoio profissional no início da carreira. Foi uma relação que terminou em desencanto e tristeza, mas Lucília nunca concordou com um divórcio. Segue-se a explosão amorosa da segunda oportunidade que a vida lhe dá, na mulher e amante Mindinha, que permanecerá companheira fiel até o fim de seus dias. Poderia ser também uma história de amor universal e atemporal. Uma rosa nos cabelos sublinha o romantismo exacerbado sobre o qual os amores sobrevivem.
homage to young boys and girls that frequent concerts and theatres
With this piece we evoke the composer’s love life. Lucilia, the pianist that supported him strongly at the start of his career, was his first love and his wife. This relationship ended in disillusion and sadness but she never agreed to a divorce. It was followed by a love explosion, the second opportunity that life gave him, with Mindinha, who became his lover and was his loyal companion until the end of his days. What we put on stage could be a universal and timeless love story. A rose in the dancer’s hair symbolizes the exaggerated romance that makes love survive.

CINCO Choro nº1 para violão FIVE Choro nº 1 for guitar
Villa-Lobos, na sua mocidade, frequentou as rodas de choro tocando para sobreviver. Esta composição de 1920 foi dedicada a Ernesto Nazareth, outro compositor brasileiro. É um choro com inspiração direta na música urbana do Rio de Janeiro do final do século XIX e dança-se como um samba, numa alusão a um Brasil que se apropria e modifica as suas impostas origens, recriando-as para se criar
In his youth Villa-Lobos frequented the gatherings of “choro” musicians, playing to make a living. This composition from 1920 is dedicated to Ernest Nazareth, another Brazilian composer. It is a choro directly inspired by the urban music of Rio de Janeiro at the end of the 19th century. It is danced like a samba, as a reference to a Brazil that defines itself and modifies its imposed origins.

SEIS » Estudo nº 3 em Ré Maior SIX Etude 3 D Major
A sonoridade deste Estudo reflete um espírito de modernidade que espalhou-se no Brasil a partir do século XX, e pode ser uma alusão ao início da industrialização e a proliferação de fábricas que foi aos poucos redesenhando a paisagem suburbana, principalmente quando a Segunda Grande Guerra arrasou o parque industrial europeu, criando a demanda por produtos industrializados de outras partes do mundo. Villa-Lobos viveu e compôs dentro desse paradigma de modernidade. As guerras na Europa também trouxeram influências para outras disciplinas artísticas. Na dança a bailarina e coreógrafa Maria Duschenes, , filha de húngaros que se refugiaram no Brasil antes da 2ª Grande Guerra, foi uma das introdutoras do trabalho do coreógrafo Rudolf Laban. E as guerras na Europa foram tema também para as artes plásticas, tendo sido o pintor brasileiro Cândido Portinari convidado a pintar um painel intitulado Guerra e Paz para o edifício da ONU. Nesta peça nossa bailarina toma emprestados movimentos de Rudolf Laban, e as máscaras das mulheres nesse painel de Portinari para resumir esse espírito de modernidade resultado de sofrimento humano, e que emana deste estudo nº3 de Villa .

SETE » Prelúdio nº 2 em Mi Maior SEVEN Prelude nº2 in E major
homenagem ao Malandro Carioca – Melodia Capadócia – Melodia Capoeira
O malandro carioca, essa imagem quase romântica de um fora-da-lei manipulador e oportunista mas relativamente inofensivo, que inspirou Villa-Lobos e que Walt Disney transcreveu na figura do Zé Carioca, já não existe. Todo o início da peça ainda reflete essa imagem, sublinhada pelo uso de um chapéu panamá. Hoje em dia um fora-da-lei, ou malandro, carioca age e se esconde nas favelas ou comunidades. Fortemente armado, trafica droga, é o maior inimigo das famílias com quem divide essas áreas de residência, e será eventualmente morto numa “ação de pacificação” pelo exército. Outros tempos… Na nossa leitura, a capoeira invocada pelo compositor traduz um pouco melhor a dramática insegurança nos subúrbios cariocas atuais. Uma “homenagem” a tal malandro já não faz sentido.
tribute to the tricksters of Rio –Cappadocia melody –capoeira melody
The “romantic” hustler from Rio de Janeiro, this almost romantic image of a relatively harmless outlaw character, which inspired Villa-Lobos and that Walt Disney used as a model to create the cartoon figure of Zé Carioca does not exist anymore. The beginning of this piece reflects this romantic idea, illustrated by using a Panama hat. Today “hustlers from Rio” will hide in one of the favelas, nowadays called communities, heavily armed, deal drugs, will be the worst enemy of the families with whom they share this dwelling, and will eventually die in a “pacification action” by the army. Different times… The sound of capoeira that the composer introduces illustrates a little better the dramatic insecurity of life in the suburbs of Rio today. A “tribute” to them doesn’t make sense anymore.

OITO » Estudo nº 6 em Mi Menor EIGHT Etude nº 6 in E minor
Com este estudo invocam-se todos os orixás. Villa-Lobos talvez não tenha pensado nisso, mas o estudo poderia bem ser tocado num terreiro onde uma mãe de santo oficiasse uma cerimónia religiosa. Troca-se o chapéu panamá pelo adé (coroa) com filás (franjas de missangas) douradas para homenagear Oxum e as sincréticas religiões afro-brasileiras, resultado direto das artes e artimanhas que os oprimidos usaram para superar os obstáculos criados pelos opressores, desde tempos imemoriais…
This etude evokes all the gods from Afro-Brazilian religions. Villa-Lobos may not have thought about this, but this etude could very well have been played in some sacred backyard where a priestess conducts a religious ceremony. The Panama hat is replaced by a golden “adé” with “filás” a crown with a fringe of beads, to honour Oxum and the syncretism of the Afro-Brazilian religions, a direct result of the skills and tricks that the oppressed used to overcome the obstacles always created by their oppressors.

NOVE » Prelúdio nº 1 em Mi Menor NINE Prelude nº 1 in E minor
homenagem ao Sertanejo Brasileiro – melodia lírica
De todo o vasto sertão brasileiro, escolheu-se fazer uma alusão ao caboclo-de-lança do tradicional maracatu de baque-solto dançado pelos cortadores de cana na Zona da Mata dos sertões de Pernambuco. Essa figura usa um chapéu feito cabeleira de fios prateados, que alguns dizem poder ser uma imitação tosca das cabeleiras empoadas dos nobres. A flor branca na boca, de misterioso sentido, e os óculos escuros… é o sertanejo mimetizando o citadino, o pobre mimetizando o nobre…
tribute to the Brazilian peasant – lyric melody
From the many aspects of Brazilian peasant life we chose the image of the lance bearer from the traditional festivity called the rural maracatu, which is danced by the cane cutters in the Zona da Mata (forest area) of the backlands of Pernambuco. This figure usually wears a hat with what resembles a shiny wig on top which some people believe to be an allusion to the wigs worn by nobility. He carries in his mouth a white flower that has a secret meaning and wears sunglasses… the peasant imitating the city dweller, the poor imitating noble men.

DEZ » Prelúdio nº 4 em Mi Menor TEN Prelude no 4 in E minor
homenagem ao Índio Brasileiro
Durante esta peça acontece a última etapa desta metamorfose, que invocará o índio brasileiro. A bailarina despe a saia e a crinolina, pinta o rosto e os braços com a tinta vermelha de urucum reproduzindo alguns motivos usados por índios brasileiros de diversas tribos.
tribute to the Brazilian Indian
This piece, the last part of the metamorphosis, evokes the Brazilian Indian. No more cage crinolines: the dancer decorates her face and her arms with red paint made of urucum, a fruit, reproducing motives used by Brazilian Indians of different tribes.

ONZE » Estudo nº 11 em Mi Menor ELEVEN Etude nº 11 in E minor
Este estudo faz uma alusão musical que nos pareceu conter movimentos de danças rituais de índios brasileiros nas cerimónias do Quarup. O passo cadenciado marca o ritmo das suas evoluções perdidas no tempo. Com ela invocamos e homenageamos os nossos mortos. A coreografia termina com uma referência aos primeiros movimentos da Sagração da Primavera de Igor Stravinsky coreografada por Nijinsky, que estreou em 1913, mesmo ano em que pela primeira vez se editaram obras de Villa-Lobos.
This etude has a melodic line that sounds like the ritual dances of the Brazilian Indians during the Quarup ceremonies, honouring the dead. With this music we evoke and pay tribute to our own dead. The choreography ends with a reference to the first steps of The Rite of Spring by Igor Stravinsky, choreographed by Nijinsky, which opened in 1913, the same year that Villa-Lobos’ compositions were published.

ALGUMAS OPINIÕES / SOME OPINIONS

Esta performance criada com conhecimento de causa e dirigida por Tela Leão, leva o público numa jornada pela evolução da identidade cultural do Brasil. Usa peças de Villa-Lobos para guitarra clássica, brilhantemente interpretadas por Josué Nunes, para acompanhar os movimentos fluentes de Simone Marçal, cujo rosto expressivo conduz-nos através dos sempre mutantes estados de espírito e vários idiomas narrativos do programa.

A peça abre com música e dança que evocam o estabelecimento do Rio de Janeiro com seu entorno espetacular, entre as montanhas e o mar. Continua para a homenagem a Bach onde Villa-Lobos ecoa as sonatas para violino solo, e reflete de forma bem humorada sobre as primeiras influências europeias na cultura brasileira.

Para concluir, as referências às culturas dos sertanejos e dos índios brasileiros, e às religiões afro-brasileiras, refletem-se vividamente na música e na dança. A performance é habilmente encenada, fazendo excelente uso de um muito simples figurino e objetos de cena: um chapéu, chávenas de chá, óculos escuros, uma peruca, tudo colabrando para um efeito dramático preciso e precioso. Oferece uma leitura de clown digna de Chaplin na Gavotte, e um verdadeiro “tour de force” de dança no Choro No.1, resultando numa deleitável performance artística
Len Graham - Crítico e animador cultural - Qube Arts Oswestry / Ellesmere Sculpture Initiative, UK

This expertly crafted performance, directed by Tela Leao, takes its audience on a fascinating journey through the evolution of Brasil`s cultural identity. It uses Villa Lobos`s Five Preludes for classical guitar, brilliantly performed by Josue Nunes, to accompany the fluent dancing of Simone Marçal whose expressive face carries us exuberantly through the ever-changing moods and idioms of the programme narrative.

The piece opens with music and dance evoking the establishment of Rio in its spectacularly scenic environment, beside mountains and sea. It moves on with Villa-Lobos´s “homage to Bach”, echoing the unaccompanied violin sonatas, and reflects humorously on the early European influences in Brazilian culture. The concluding references to indigenous peasant and Indian cultures, and Afro-Brazilian religions and traditions, are all vividly reflected in the music and dance.

The performance is skilfully staged making excellent use of simple costume and props: a hat, tea cups, sunglasses, a head-dress, all to fine dramatic effect. It offers clowning worthy of Chaplin, in the Choro Gavotte, and a “tour de force” of dance in Choro No.1, altogether a wonderfully entertaining programme.
Len Graham - Critic and cultural animateur - Qube Arts Oswestry / Ellesmere Sculpture Initiative, UK

Villa-Lobos em Movimento... Gosto muito... a música, o guitarrista… o uso simples de objetos de cena, e a coreografia. Uma ótima performance…
Walter van der Kooi - crítico do semanário holandês de política e cultura De Groene Amsterdammer
Villa-Lobos in Movement... I like it very much... the music, the guitar player... the simple use of props and the choreography. A very nice performance...
Walter van der Kooi - critic of De Groene Amsterdammer, Dutch weekly for poltics and culture

Assisti a um novo trabalho de Tela Leão. Villa Lobos clássico e Villa-Lobos brasileiro. A coreografia faz jus à música. Uma simbiose perfeita. A não perder. Lindo.
Carlos Lopes – Casa Álvaro de Campos Tavira

I’ve attended Tela Leão’s new performance. Villa-Lobos classical and Villa Lobos Brazilian. The choreography does justice to the music. A perfect symbiosis. Can’t miss this. Beautiful.
Carlos Lopes – Casa Álvaro de Campos Tavira

Esta performance íntima e delicada, é como um diálogo entre a bailarina e o músico/guitarrista, como se estivessem falando entre eles sobre segredos que só eles partilham. Mas nós os compreendemos mesmo assim.
Paul Binnerts encenador e professor de teatro - Amsterdão / Nova York
The intimate and delicate performance was like a dialogue between the dancer and the musician/guitarplayer, as if they were talking with each other about secrets only they knew about. But we understood them anyway.
Paul Binnerts Theater director, acting teacher - Amsterdam / New York

“Sim, sou brasileiro e bem brasileiro. Na minha música eu deixo cantar os rios e os mares deste grande Brasil. Eu não ponho mordaça na exuberância tropical de nossas florestas e dos nossos céus, que eu transponho instintivamente para tudo que escrevo. "
Heitor Villa-Lobos

“Yes, I am Brazilian, very much so. In my music I let the rivers and the sea sing of this great country. I don’t restrain the tropical exuberance of our forests and our skies which I transpose instinctively in everything I write.”
Heitor Villa-Lobos

“Forte e original no seu uso do ritmo, ele dá a cada uma de suas composições uma coloração que, em seu brilho e na sua misteriosa melancolia, parece refletir a paisagem e a alma do Brasil.”
Stefan Zweig sobre Villa-Lobos, em Brasil – Terra do Futuro

“Strong and original in his use of rhythm, he gives to each of his works a colour which in their brightness, and again in their mysterious melancholy, seem to reflect the landscape and the Brazilian soul.”
Stefan Zweig about Villa-Lobos, em Brazil - Land of the Future

“Villa-Lobos é assim meu pai, é meu tudo. Estou com vontade de botar uma música do Villa-Lobos no meu disco. É mais do que uma homenagem. É para o disco ficar mais bonito. Pra eu sentir que tinha alguém que gostava mais de música do que eu.”
Antonio Carlos Jobim

“Villa-Lobos is like a father to me, he is my everything. I want to put the music of Villa-Lobos on one of my records. That is more than just a tribute. It is to make the record more beautiful. For me to feel that there was somebody who loved music more than I do.”
Antonio Carlos Jobim
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