Acorde é a nova noite do Lux, uma noite feita de matéria-prima nacional. De dois em dois meses, abrimos a nossa sala aos músicos, DJs e produtores portugueses para vos mostrar o que andam a experimentar, a ouvir e a compor nas suas casas. Acorde, à noite. Acorde, cá dentro. __________________________________________________________ Marie Dior (live) https://soundcloud.com/marie-dior Por entre visões desoladoras e paisagens cavernosas, Marie Dior é uma criatura da noite que foge do óbvio como o Diabo da cruz, tanto nas sonoridades que emite, que parecem vindas da sala dos fundos de uma fábrica abandonada, como até no nome que decidiu escolher. Marie é, afinal, um rapaz. Diogo Correia, de Guimarães por origem, mas agora “berliner” por adopção, tem o fascínio pelo obscuro como motivação maior. As suas raízes estão no black-metal, mas um progressivo mergulho na electrónica viu nascer Marie Dior como uma entidade que se move ágil e freneticamente, do techno industrial ao dark ambient, com várias paragens pelo meio. Com diversos álbuns e EPs lançados em editoras como a Aural Sects, Golden Mist ou a sua AVNL, Marie Dior é um criador compulsivo, para quem todo o fim é um princípio. Uma coisa é certa, esta passagem pelo Lux é mais um início, e um início importante. Disse um dia que pode até esquecer-se de quantos discos já fez, mas suspeitamos que não nos esqueceremos facilmente desta sua apresentação em live-act entre nós. Shcuro https://soundcloud.com/shcuro Quando um artista escolhe como nome artístico uma designação como Shcuro, e funda uma editora denominada Sombra, é caso para dizer que o seu manual de intenções está bem apresentado. Não se esperem então melodias chilreantes e hinos uplifting, da parte do Lisboeta João Ervedosa. Esperem-se antes, nas suas palavras, “ressonâncias de um passado distante ou de um futuro industrial apocalíptico”, mas marcadas desde já, por um presente luminoso, dizemos nós. Uma luz lunar, reflectida numa lâmina afiada ou numa ferramenta de alta precisão, é assim a que soa a sua música. Como a que vislumbramos no seu 1º 12 polegadas, “Black Acid”, com remisturas, entre outros, do histórico do techno britânico Paul Mac. E é muito por estas coordenadas que se rege o plano de Shcuro para nos despertar nesta ACORDE. Habitualmente parco em palavras, mas mais que fluente nas suas elegias ao lado escuro da Lua, Shcuro vai fazer soar no Lux, sob a forma de DJ set, as trombetas que anunciam uma nova “dark age” da electrónica nacional. Zentex (live) https://soundcloud.com/zentex De Jari Marjamaki diz-se, habitualmente, que é o finlandês mais português que há. Radicado há cerca de 20 anos em Portugal, a verdade é que a sua música supera fronteiras ao ponto de torná-las irrelevantes. E não se tratam apenas de fronteiras geográficas, mas também musicais. Da produção essencialmente techno que nos traz enquanto Zentex, cosendo-se sobretudo com linhas minimais e dub, inspiradas na finlandesa Sahko e na alemã Basic Channel, à cena “free” onde ultimamente tem estado activo na dupla Vicente/Marjamaki. Mais do que a Finlândia ou Portugal, é justo dizer que o mundo precisa de ouvir mais Jari. E ele tem muito para nos relatar das suas deambulações por esses universos, ou dos do sound design e música para performances artísticas, assim haja palcos e ouvidos abertos. Quem já ouviu Zentex como nas suas edições por labels como Traum Schallplaten, Boxer ou Bloop, já está desperto e acordado para esta quase necessidade de o ouvir. Para os outros, este live-act na primeira ACORDE vai ser um agradável e surpreendente “wake up call”. Textos: Nuno Mendonça
