TERZI Aquele tipo de pessoas que utiliza frequentemente frases começadas por expressões como “no meu tempo”, são capazes de vos dizer como hoje em dia, as novas gerações “lêem na diagonal”, “picam” a música ou consomem cinema como se fizessem “zapping”. Ao ouvir o trabalho de Terzi, até o mais conservador ouvinte terá noção que no caso do jovem lisboeta, residente em Braga, Gonçalo Neto, se trata de alguém que não saltou uma linha, ignorou uma nota ou falhou um fotograma, na construção da sua cultura musical. Terzi iniciou em 2009 uma ainda curta mas já preenchida aventura musical, que rapidamente lhe granjeou uma reputação de “boy wonder” suportada em prestações de insuspeita maturidade em cabines como as do Gare, MusicBox, Theatro Circo ou Plano B, a curadoria da sua Terzi Takeover no Espaço Quatorze em Braga, e o co-management da auspiciosa label Extended Records. A sua presença nesta Rush é o momento alto do seu percurso, oportunidade fresquíssima de comprovarmos o seu precoce domínio de linguagens house e techno com uma personalidade e gosto muito próprios e depurados. A descobrir, à confiança. MOLLY Corre entre os mais atentos, que Paris está com uma efeverscência, no que à electrónica diz respeito, que ameaça torná-la uma nova Berlim. Um dos epicentros deste crescendo é o lendário club Rex, perene caldeirão do que de melhor se faz na cidade desde há duas décadas, agora com uma vivacidade ao nível dos seus primeiros tempos. E uma das responsáveis por tal borbulhar é a também borbulhante Molly, não só cabecilha da comunicação do club, mas também sua reputada residente. Depois de alguns anos a viver no UK, onde se viciou na música para a pista, Molly instalou-se de armas e bagagens na cidade do amor, para lhe acrescentar mais uns pozinhos da sua própria paixão. Como anfitriã das festas HEAD_ON (que não por acaso, nos lembra hedonismo), recebeu gente como Levon Vincent, Fred P e Cassy, com warm-ups atmosféricos e inteligentes que deles extraíram o seu melhor, saltando rapidamente para a produção, com a benção de alguém que sabe muito da poda, na Rekids de Radio Slave. A anfitriã por excelência passou entretanto a convidada de peso em clubs como o Panorama Bar, Robert Johnson ou o recém-desaparecido Trouw. Junta-lhes agora o Lux, trazendo uma outra espécie de “french touch” no feminino a esta Rush. DJ DEEP Se a música de dança parisiense tem algum mote, talvez ele seja, “while Paris is sleeping, respect is burning”. É no mínimo o que se fica a pensar perante a estatura de DJ Deep, que há 20 anos incendeia dancefloors na capital francesa e não só, enquanto o respeito pelo seu trabalho aumenta. Respeito de e por nomes como Kerri Chandler, Ben Klock e Laurent Garnier (e isto para sermos concisos), que ou editaram na sua label Deeply Rooted House (Chandler e Klock), ou o apadrinharam atrás dos decks (Garnier), solidificando uma imagem de uma espécie de “cimento que mantém o edifício intacto” na cena de toque francês, que se expressa além dos já de si aliciantes “super descontos” nos “Boulevard” de St. Germain. A profundidade a que alude o seu nome não se refere tanto a detalhes estílisticos, como à profundidade do seu saber como DJ e talvez à da cave onde guarda o seu manancial de discos. Depararmo-nos com DJ Deep numa outra cave, desta vez lisboeta, ou seja, no Lux, é seguramente acrescentar à nossa própria colecção, uma peça fundamental que faltava, no puzzle caoticamente elegante e brilhante da música electrónica francesa actual. Perspectiva-se uma pista ao rubro, a condizer com o céu de neon vermelho que a cobre. Textos Nuno Mendonça
