VAKULA Tribalismo moderno de origem improvável. Diga-se, da Ucrânia não se conhece grande tradição de música de dança, pelo menos ao comum mortal que não seja ávido pesquisador. Mas Vakula veio mudar tudo isto. Saltou de Kiev para a projeção internacional em 2008 e hoje em dia parece ser um nome em que se esbarra constantemente nos círculos daqueles que querem ir um pouco mais além do já visto e revisto. Mikhaylo Vityk de nascença, mexe-se nos territórios quatro-por-quatro apoiando-se numa construção densa de ritmos que evocam esse tal espírito tribal mas sem o deixar cair pelo óbvio. Não é de admirar que no estúdio prefira colaborar com músicos do que abandonar-se à solidão das máquinas, trazendo influências de vários quadrantes e transpondo-as para prolíficas edições em editoras-chave como a Dekmantel, a Archipel ou a sua própria Leleka. E é à figura de DJs-músicos como Theo Parrish ou François K que reconhece influência para o seu próprio estilo enquanto DJ, com a coragem de conduzir experiências na pista, num estilo livre e psicadélico. Traz-nos música dada a hipnoses e transes, a celebrações conjuntas e a muita, muita dança. Porque magistralmente ele consegue, a tempo certo, passar de um disco imbuído em calor orgânico para uma sequência Techno que nos deixa com vontade de segurar a cabeça com medo que possa fugir o juízo. É largá-la – Vakula trata de nos levar a bom caminho. KONSTANTIN SIBOLD No grande caldeirão comum em que House e Techno fumegam constantemente, é possível encontrar algo para todos os gostos, sempre. E Konstantin Sibold faz bom uso da pluralidade que lhe está ao alcance, para mostrar que a atenção ao detalhe não morreu algures na década de 2000, quando da Alemanha saiu uma fórmula minimalista que seria copiada e utilizada até à exaustão. Ele faz parte de uma série de resistentes que manteve um outro lado da música de dança germânica – o da alma. Foi em Estugarda que em 2009 se tornou residente do clube Rocker 33, que rapidamente atraiu curiosidade e reconhecimento, com festas onde Konstantin recebeu desde Todd Terje a Levon Vincent. E aí se formou na cabine, atentamente esculpindo um estilo próprio à medida que escutava os pares. Sem medos de ir buscar o bom e fiel House americano e de o fundir com as propostas europeias, dá primazia às melodias e ao belo. O seu tema “Madeleine”, editado pela Innervisions de Dixon e Âme no ano transacto, é exemplo disto mesmo e deixou seguramente muitos de sorriso pregado em dança sonhadora, não só na nossa disco, como em pistas por todo o mundo. Se o convite é sorrir e dançar, como recusar? JOÃO TENREIRO & LEO CRUZ Ser assumidamente purista de alguma coisa pode nem sempre ser uma vantagem, mas quando se assume há que defender apaixonadamente o que se gosta. João Tenreiro e Leo Cruz fazem-no. Convictamente. Eles são do vinil, mas são do vinil de forma séria, amam o formato como amam a música, não imaginam uma coisa sem a outra. São do House, da sua veia mais quente, profunda e melódica mas não necessariamente mais simples ou óbvia. Não têm a mínima vergonha de assumir preferência pelos temas mais antigos, prontos a serem redescobertos e trazidos a um novo público, a viverem gloriosamente de novo nas pistas, como se acabados de sair de um estúdio em Chicago, Nova Iorque, ou qualquer outra cidade de onde um dia nasceu um groove. Aos nossos ouvidos não interessam Eras, mas aprazem certamente as propostas saídas da mala de discos da dupla que junta Leo, já mais veterano, a João, mais jovem mas com a música de dança a correr-lhe no sangue em jeito de herança de família. Nesta estreia aqui, entre nós, está lançado o mote para nos atirarmos à imortalidade da música. Quem sabe não chegamos um pouco mais próximo da nossa? Textos Inês Duarte
