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Florbela Porter

Florbela Porter

Lançamento de CD

O vintage está na moda, sem ponta de nostalgia. Entre diversas formas de expressão artística, poesia e música (nas suas múltiplas, cambientes), surgem e desvanencem-se, no turbilhão do consumismo e de uma mera fruição estética. Ocasionalmente, antigos êxitos, pulsares distantes, sensibilidades angulosas, reaparecem em todo o seu esplendor. Não que alguma vez tivessem sido obliterados da memória, mas saltam da exclusividade de círculos restritos diretamente para o palco mainstream.

Figuras maiores da cultura ocidental da primeira metade do séc. XX, Cole Porter (1898-1937), George Gershwin (1898-1937) e Florbela Espanca (1894-1930) notabilizaram-se por criar uma voz própria que ecoou no íntimo das gerações seguintes. Nem sempre acarinhados, irromperam de um aparente esquecimento, com redobrado fulgor, em sucessivas redescobertas e benéficas apropriações.

Numa coprodução entre o Festival Estoril de Lisboa e Temporada Darcos, ouviremos em que canção, enquanto veículo da palavra, da poesia e dos sentimentos aí plasmados, é o mote. Escrito em 2012, o Livro de Florbela, op. 42, de Nuno Côrte-Real (n. 1971), revisita sete dos sonetos mais inflamados da poetisa de origem alentejana. Num registo de tremendo lirismo musical, vemos sublinhado o pathos que percorre o sentido das palavras. Solidão, tristeza, saudade, desejo e morte refulgem num ambiente de grande intimidade (para a qual concorre a delicada instrumentação, violino, viola, violoncelo e piano), bem como a inconformidade sufocante das palavras, transfiguradas em música.

Num registo diferente, mas não menos poético, chegam-nos das canções que o tempo elevou à condição de obras-primas, Summertime e Bess, you is my woman now da ópera Porty and Bess (1935) de Gershwin, compositor que se notabilizou por cruzar (quase de forma inédita) os idiomas populares, jazz e erudito, numa simbiose inspirada que marcou, em definitivo, o curso da História.

Dotado de uma inspiração invulgar, Cole Porter foi um dos compositores mais dotados de Broadway e algumas das suas melodias perduraram muito para além do seu tempo. As oito canções hoje em concerto têm arranjo de Côrte-Real, num exercício cruzamento de referências estéticas e revestidas de um panejamento vincadamente erudito.

N. Côrte-Real (n.1971)
Livro de Florbela, op.42
I. Exaltação
II. Árvores
III. Os versos que te fiz
IV. Este livro
V. Num postal
VI. Cinzento
VII. À Morte

G. Gershwin (1898-1937)
Summertime
Bess, you is my woman now

C. Porter (1981-1937)
I. Night and day
II. You do something to me
III. Ev'ry time we say goodbye
IV. I love Paris
V. Let's do it
VI. Get out of town
VII. From this moment on
VIII. In the still of the night

Sopranos: Lara Martins e Eduardo Melo
Direção musical:
Nuno Côrte-Real
Ensemble Darcos

"Nesta nova edição da Temporada Darcos, propomo-nos seguir a linha que tem norteado as temporadas anteriores: grande música, grandes intérpretes, mas procurando sempre pontos de contacto entre diferentes tradições, privilegiando o ecletismo e a inclusão. Por isso, desta vez escolhemos o lema da união pela música. Num mundo ainda muito desunido, dividido pelas políticas, pelas religiões, pelas desigualdades e pelos abomináveis racismos, cabe à arte proclamar bem alto que o único futuro sustentável é o da união.A união pela paz, pelo amor, pelo planeta e pela liberdade. A união dos povos. Nós e os outros, duas realidades diferentes, mas na utopia que desejamos para o mundo as diferenças esbatem-se e convergem numa única realidade. É com esta convicção que a Temporada Darcos apresenta o seu projeto de fusão entre o fado e a música tradicional afegã, através da colaboração entre o Ensemble Darcos e o ANIMP (Afghan National Institute of Music), com o fadista Marco Oliveira e o guitarrista Miguel Amaral. Segundo o mentor e diretor do ANIMP, Dr. Ahmad Sarmast, dezenas de jovens estudantes afegãos fugiram ao terrível regime Talibã, viajando 6.592 quilóme-tros para poderem ter um futuro, e para que a música tradicional afegã pudesse sobreviver. Parece-nos triste e paradoxal que uma tradição milenar necessite do exílio para garantir a sua existência e preservação… Também sob a égide da união, e visando criar pontes culturais de índole humanista, o mais ambicioso projeto da Temporada Darcos, Europa Sinfónica, será finalmente retomado (em suspenso desde 2020 devido aos anos de pandemia), com a primeira visita a Portugal da Orquestra da Ópera Estatal da Hungria, um dos mais antigos e prestigiados agrupamentos musicais europeus, e com a Orquestra da Toscana, instituição capital daquela região italiana, com sede em Florença. Estes dois programas terão como solistas os aclamados artistas portugueses António Rosado e Eduarda Melo. O ano de 2023 verá ainda nascer o projeto Folias, terceiro livro da série para coro e instrumentos, Novíssimo Cancioneiro, de Nuno Côrte-Real, desta vez inteiramente dedicado às danças portuguesas, reper-tório rico e variado que é mister revitalizar com vista a uma maior presença artística no panorama contemporâneo.De destacar, por último, a estreia do projeto de fusão estética entre o jazz e o clássico, Nas asas do indefinido, com o Ensemble Darcos e a internacional cantora portuguesa Maria Mendes, procurando caminhos de fusão e desco-berta entre aqueles dois mundos distintos. Podíamos projetar neste último projeto musical, como exercício para as nossas próprias vidas, o caminho que a humanidade parece cada vez mais estar a necessitar: tomar o oposto, o contrário, o aparentemente inconciliável, e conciliá-los; entender as diferenças, aceitar as distinções, compreender as essências, e num desejo sincero de harmonia, conceber um horizonte onde a natureza varia do Homem possa existir pacificamente e sem mácula. Utopia, nunca te esqueceremos!" Nuno Côrte-Real“A cultura é o grande observatório do humano” José Tolentino Mendonça (2021)Na sua 16ª edição, a Temporada Darcos propõe um programa artístico que elege “A união pela música” como impulso e horizonte. Longe de constituir um cliché semanticamente esvaziado pela repetição, a afirmação prefigura um manifesto pelo direito a construir uma nova narrativa do futuro.A Temporada Darcos enraíza-se num movimento cultural agregador de matriz cosmopolita que promove o encontro entre “diversidades”, aprofundando o diálogo, a cooperação e a participação cidadã. Repousa na profunda convicção de que as Artes e a Cultura – conceito poliédrico – devem assumir um papel central e não ornamental no âmago de qualquer projeto de desenvolvimento territorial. Ao longo da sua trajetória, um sistema capilarizado de relações tem sido delicadamente tecido, dirimindo distâncias entre instituições, coletivos artísticos e comunidades.Na sua dimensão processual, a Temporada Darcos concorre para a edificação de uma ecologia de práticas colaborativas que, assentes na mutualização de experiências, conhecimentos e competências, aportam inovação e abrem caminho a diálogos fecundos materializados em projetos comuns.
Enquanto movimento fortemente comprometido com a educação, inequívoca alavanca de transformação, a Temporada Darcos tem contribuído para salvaguardar a acessibilidade a um patri-mónio artístico em permanente (re) criação e avigorar a literacia musical de uma “vasta maioria”.A música, na sua pluralidade de expressões, é um universal de cultura, uma linguagem de convergência que nos projeta num espaço identitário partilhado. Em tempos marcados pelo desencanto, incerteza, fragmentação, dissolução e insularidade, a música, mais do que uma experiência salvática, hiperbolicamente escapista, ou de estrita e efémera fruição estética, oferece a possibilidade de pensar novas formas de habitar o mundo, de ousar outras vidas em comum." Ana UmbelinoDireção artística
Nuno Côrte-RealConsultoria
Afonso MirandaProjetos especiais
Vanessa Pires / ArtwayTextos
José Bruto da CostaProdução executiva
Bruna MoreiraAssistente de produção
João BarrinhaGestão de apoios
Jorge ReisRelações públicas e assessoria de imprensa
Débora PereiraContabilidade
Luís Silvestre
Imagem gráfica
Olga Moreira a partir de fotografias de Jorge Carmona
Comunicação e imagem
Câmara Municipal de Torres Vedras

Fonte: http://www.cm-tvedras.pt/agenda/detalhes/146919
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