Na obra prima de Kubrick “2001 - Uma Odisseia No Espaço”, a figura central é um monolito negro que fascina todos os que com ele se deparam, mediante uma espécie de fascínio pelo abismo que provoca em quem observa as suas linhas puras e exactas, e os reflexos baços da luz que nele incide. A música do germânico Marcel Fengler é um pouco assim : superfícies ao mesmo tempo angulosas e fluídas, onde a escuridâo parece acetinada, e onde a luz que nelas reflecte, se metamorfoseia num arco-íris.
Em disco ou na cabine, Fengler é este contraste. É possivelmente o DJ do roster de residentes do Berghain capaz de manter os níveis de intensidade mais altos por mais tempo, ao longo de um set, mas em simultâneo ser o mais melódico e musical. É comum vê-lo edificar um frenesim na pista com sequências potentes de faixas físicas e de atmosfera carregada e de repente soltar vocais idílicos e uplfifting para jogar com a emocionalidade da pista. Em disco, principalmente em edições pela Ostgut Tön e com expoente máximo no belíssimo (não só em em qualidade, mas a nível estético) álbum “Fokus”, pressentem-se influências do trance de inícios 90 ao barulho com a melodia e experimentação do melhor de Aphex Twin ou Autechre, sublinhadas com doses saudáveis de influências do techno britânico clássico.
Estes abismos e alturas constrastantes e fascinantes já há muito que tornavam obrigatória a visita ao Lux de Marcel Fengler. Ele oferece-nos algo que nem sempre o techno moderno deixa transparecer por trás do seu chassis metálico, tecnologicamente irrepreensível : o pulsar da alma humana, frágil, emocional e dada a estados de alma de extremos, que afinal é o que põe toda esta maquinaria em movimento. Marcel Fengler representa um estágio superior de harmonia entra emoção e fisicalidade pura, que urge desvendar.
- Nuno Mendonça
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