23:45 até às 07:00
SONIC FRESH'14 com VATICAN SHADOW, TRUNCATE, LEWIS FAUTZI e MANU

SONIC FRESH'14 com VATICAN SHADOW, TRUNCATE, LEWIS FAUTZI e MANU

Vatican Shadow (live)

O mundo insiste em fornecer a Dominick Fernow combustível para incendiar palcos e mentes. O mentor do projecto Vatican Shadow não gosta do que vê quando olha à volta, e está determinado em acordar-nos para a realidade que observa, não com um ligeiro toque no ombro, mas com a pujança de uma arma de guerra.

Ler os títulos dos trabalhos de Vatican Shadow é como sujeitar-nos à barragem intensiva do “media blitz” de uma qualquer CNN em tempo de guerra. Cultos religiosos, a guerra contra o terrorismo, os tumultos no Médio Oriente ou nas antigas repúblicas Soviéticas, nada escapa à visão corrosiva de Fernow, num conglomerado de mensagens e alertas pouco comuns na cena electrónica. Musicalmente o bombardeamento é, se possível, ainda mais intenso. Mas não se pense que é tudo força bruta. É verdade que Dominick Fernow é dos casos mais extremos de músicos vindos da área do “metal” que passaram para a electrónica. Construíu uma reputação temível com o seu projecto de “black metal” Prurient, mas após uma digressão europeia a ouvir mixes de techno, decidiu expôr a sua visão do género, congeminando um potentíssimo cocktail (molotov, sim) de algo a meio entre as bandas sonoras de John Carpenter, Muslimgauze, Aphex Twin e o techno de gente como Regis e Silent Servant (seus confessos fãs e colaboradores). Daqui resulta algo que consegue ser esmagadoramente belo e até dançável, mas com uma intensidade capaz de queimar sinapses, espalhado pelas suas próprias editoras Hospital Records e Bed Of Nails, ou no culto negro chamado Blackest Ever Black.

Vestido de roupas militares e armado de uma parafernália de leitores de cassettes e processadores de efeitos, Vatican Shadow detona em live act com uma performance de deixar qualquer um pregado ao chão. Dominick comporta-se como um sacerdote em transe à beira da combustão espontânea. Um banho de realidade nua e crua que vai deixar a pista do Lux em chamas.


Audio Injection / Truncate 

Não há nada de invulgar se um músico decide criar pseudónimos para explorar avenidas diferentes no seu percurso musical. Muitas vezes é uma forma simples de dar largas à criatividade, extravasando aquela tendência que todos temos de rotular um artista. Já é menos vulgar é quando um desses projectos paralelos cresce de tal forma que quase faz esquecer o projecto principal.

É isto que tem acontecido com o californiano David Flores. Flores já é uma figura do techno underground de Los Angeles enquanto DJ, desde os seus 15 anos e em especial desde que em 2003 lançou o projecto de produção Audio Injection e iniciou a série de eventos Droid Behaviour. Com lançamentos frequentes em labels como a Electric Deluxe de Speedy J ou a CLR de Chris Liebing, a sua reputação nos meios do techno mais pujante e “big room” era sólida e os gigs frequentes. Mas as coisas passaram para um nível acima precisamente quando quis começar a fazer um som menos bombástico mas mais eficaz, explorando lados mais “jacking”, crus e profundos do techno. Em 2011 nasceu o projecto Truncate e de repente, gente como Klock, Dettmann, Luke Slater ou DVS1, já não podia passar sem as faixas deste projecto, quando o objetivo era pôr ancas e braços a abanar numa pista. Editando na label com o mesmo nome, na Mote-Evolver de Luke Slater e até na 50 Weapons dos Modeselektor, Flores criou com Truncate um estilo que de tão inconfundível, está quase a criar um sub-género do techno, tantas são as imitações que vão surgindo. Faixas bastante “loopy”, despidas de artifícios, muitas vezes com uma voz repetindo um mote até à hipnose. Quem já não ficou com a cabeça à roda com “Jack”, “Concentrate” ou “Modify”?

Certo é que há um swing especial no techno de David Flores. É dançável como poucos. Algo a ver com o sangue latino e uma nossa noção muito própria de festa, talvez, que nos diz muito. Não é à toa que esta estreia era tão aguardada por cá, poucos fazem uma pista abanar 
como Audio Injection/Truncate.


Lewis Fautzi (official)

Ande um produtor de techno os anos que andar na “luta”, ele sabe que está a fazer algo certo quando alguém como Jeff Mills toca não uma nem duas, mas três produções suas num só set. É um pouco como obter um selo de aprovação definitivo para o que se faz. Mas, como alguém dizia, “com grande poder vem grande responsabilidade”.

Lewis Fautzi não parece nada intimidado com a responsabilidade. Vê-a como um desafio a superar e tudo indica que em breve não será só Mills a repetir “plays” de faixas suas (Ben Klock por vezes vai mais longe…). Mais impressionante ainda se torna esta noção se nos lembrarmos que Luís Gonçalves, de seu nome, natural de Barcelos, tem só 22 anos. Fica a vontade de perguntar “de onde veio tudo isto?”. É bem provável que tenha muito a ver com Luís comer e respirar techno. Tanto produzindo o seu próprio som como absorvendo a história do género em todas as suas vertentes, apropriou-se de um arsenal de ideias e noções sintetizadas num som que, respeitando os fundamentos do estilo, acaba por ser seu, e apelar a “technoheads” de estirpes várias. Sim, temos as tonalidades cósmicas de um Mills, o som subterrâneo de Berlim, o impacto do techno industrial britânico, e o groove próprio da cena espanhola, mas tudo com um cunho Lewis Fautzi. Um cunho suficiente para impressionar também “grandes” que já lhe proporcionaram espaço editorial, além da sua “menina” Faut Section e da Soniculture. Casos da “clássica” Soma dos escoceses Slam, que não hesitaram em lançar um álbum inteiro das suas produções, “The Gare Album” (Fautzi não esconde a importância da cena do Norte do país no seu trabalho), ou de Len Faki e a sua Figure, que se apresta a dar ao mundo o EP “Diagonal”. Reformulamos a pergunta : “onde vai tudo isto parar?”

Para já, vai parar ao Lux e a esta Sonic Fresh. É uma visita que já se impunha acontecer, e onde Lewis Fautzi promete um live-act a conduzir-nos numa techno-trip das profundezas de uma qualquer caverna lunar, até às espirais exteriores da Via Láctea. Turismo interestelar sem sair da pista do Lux.

Textos: Nuno Mendonça
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