Há vários exemplos, mais ou menos famosos, de como fazer negócios em família nem sempre garante a harmonia desses negócios. Para nossa alegria, os quase 25 anos de sucesso dos Octave One são um exemplo do completo oposto. Porque, os Octave One são um verdadeiro “family affair”. O núcleo duro dos irmãos Lenny e Lawrence Burden é, conforme as ocasiões, engrossado por vários outros manos Burden, tanto a nível de produção como actuações ao vivo e destas reuniões fraternais saem, desde 1990, faixas que em alguns casos se tornaram peças fundamentais da história do techno (em especial o de raíz na “sua” Detroit), mais até do que apenas “hinos” do estilo. Houve o épico arranque de carreira com “I Believe”, claro, mas o auge desta ideia é a poderosa “Black Water” e o inesquecível vocal de Ann Saunderson que, 14 anos depois, provavelmente ainda é tocada todas as noites por algum DJ algures pelo mundo, e recebida pelas pistas com o mesmo fervor da 1ª escuta. São símbolos de como os Octave One são mágicos de estúdio, mas a magia produzida ao vivo é igual. É significativo que eles se auto-denominem “uma banda de techno”. Sem laptops à vista, imersos em teclados e drum-machines, enredados em cabos, os Burden constroem e desconstroem a sua história e a sua visão do techno e de um certo hi-tech jazz à moda de Detroit com uma vivacidade, emotividade e fluidez pouco vista em live-acts electrónicos. É de crer que as conversas à mesa nos almoços domingueiros da família Burden sejam bastante interessantes. Não nos sendo possível convidá-los para almoçar a um domingo, convidámo-los a fazer-nos dançar numa sexta à noite, nesta Stardust Balls. Acreditamos que estava destinado a acontecer, e acreditamos que o Lux e os Octave One foram feitos um para o outro. - Nuno Mendonça
