22:00 até às 14:00
CINEMA NO TERRAÇO SETEMBRO 2014

CINEMA NO TERRAÇO SETEMBRO 2014

Quartas, de 3 a 24 de Setembro às 22h; Sexta, dia 12 de Setembro às 21h30

Cinema no Terraço Setembro

Retomando as sessões de cinema no terraço, a música volta a estar em destaque no formato documentário. Esta nova temporada reserva uma selecção de cinco filmes representando cinco visões, directa ou indirectamente, relacionadas à imensa esfera de raíz tradicional. Da herança do folclore regional até às suas sequentes recontextualizações, esta é uma oportunidade inadiável de assistir a alguns filmes de rara exibição pública.

'O Povo que Canta'
de Ivan Dias e Manuel Rocha

Décadas depois da estreia televisiva de ‘O Povo que Canta’, na altura concebida por Alfredo Tropa e pelo etnomusicólogo Michael Giacometti, algures em 1970, restam poucos ou nenhuns registos de um trabalho sem igual por cá. Numa tentativa justa de resgate temporal, Ivan Dias e Manuel Rocha (membros da Brigada Victor Jara) regressam ao roteiro  um dia percorrido pelo fundador dos Arquivos Sonoros Portugueses. De norte a sul de Portugal, ilhas incluídas, o resultado foi surpreendente para todos, inclusive para as populações dos locais por onde passavam; muitas delas, contactando pela primeira vez com uma identidade colectiva julgada afastada ou até mesmo perdida. Todavia o documentário da dupla não anseia qualquer tomada de papel face ao original, recolhendo pelas suas próprias descobertas gravações inéditas num tempo moderno – dando aliás origem ao CD ‘Povo que Canta, Recolhas Etnográficas de um Portugal Desconhecido’.

'Lomax: The Songhunter' 
de Rogier Kappers

Descrito como um homem simples e com um dom único de conseguir o melhor de cada uma das gravações (um dia alguém afirmou mesmo que conseguiria captar música de um mero pedaço de pedra), Alan Lomax é considerado o mais brilhante arquivista sonoro de sempre. ‘The Songhunter’ retrata a sua obra nos tempos de hoje, revisitando os locais e reecontrando as pessoas que outrora participaram nas suas inúmeras recolhas um pouco por todo o mundo. Numa carrinha semelhante à original usada por Lomax nas suas viagens, o realizador Rogier Kappers percorre as regiões profundas da Europa, registando comoventes momentos colectivos em que a música se assume, irremediavelmente, como elemento unificador de um povo e elo de memória cultural impossível de apagar.

Essencialmente composto por entrevistas, este não é de todo o típico documentário biográfico em que a informação se sobrepõe à experiência cinematográfica. Uma sóbria e inteligente sinestesia de palavras, sons e imagens com princípio, meio e fim, em que a existência e intervenção de Lomax se celebra a cada minuto.

'A Cosmic and Earthly History of Recorded Music according to Mississippi Records' 
Filmes, histórias & imagens da Mississippi Records e do Arquivo Alan Lomax, com apresentação de Eric Isaacson (Mississippi Records)

Sediada em Portland, Oregon, a loja e editora Mississippi Records tem sido uma das fontes mais preciosas para melómanos de todo o mundo. Na sua porta de entrada podem ler-se mensagens de boas vindas como Always…Love Over Gold ou Fuck Your “Progress”, e logo aqui anuncia-se uma espécie de pensamento e um claro aviso aos mais incautos. A sua série de cassetes temáticas caseiras (esgravatando o melhor blues dos anos 20, o afro-funk dos anos 70 ou o punk dos tempos modernos) tornaram-se já autênticos artefactos de colecção e nelas cintila toda a dedicação que caracteriza o seu trabalho.

Nesta projecção figuram curtas-metragens inéditas e imagens raras a cargo da Mississippi Records (com a presença especial de um dos seus fundadores, Eric Isaacson), focando artistas da casa como Abner Jay, Michael Hurley ou Bishop Terry Tillis. Parte do espólio de Alan Lomax também gravitará em redor desta mostra, resultando uma recolha cuidada de centenas de horas de filmagens onde se incluem aparições e registos até agora remetidos ao insulamento do público. Uma apresentação oral e visual ímpar.


'In Search of Joe Death: The Saga of John Fahey'
de James Cullingham

Esta incursão íntima sobre a vida e obra do mestre chega ao terraço da ZDB semanas depois do lançamento do livro “Dance Of Death: The Life of John Fahey, American Guitarrist”. Mais que um documentário que busca a verdade em relação à identidade do músico, esta é uma narrativa real, na primeira e terceira pessoa do singular, sobre o espírito insatisfeito e solitário do guitarrista que transformou a face da música folk americana nas últimas décadas. Da paixão pelo Delta blues ao fascínio por expressões culturais externas, este retrato fiel não se limita no entanto a delinear apenas o mito e a lenda; nele penetramos também no lado sombrio, desgraçadamente humano, de traumas, vícios e equívocos de uma alma essencialmente desajustada neste mundo que nem por isso deixava de tecer delicadas e complexas odes à beleza que vagueava a sua mente. Através de testemunhos de amigos, família ou colaboradores como Joey Burns (Calexico), Peter Townshend (The Who) ou Keith Connolly (No Neck Blues Band), as peças vão-se encaixando, ao sabor dos relatos, nessa eterna busca da personagem Blind Joe Death.

De forma brilhante, o trabalho de Cullingham expõe a nú a estranha familiaridade que cada um de nós sente ao cruzarmo-nos com o grandioso legado involuntário que Fahey deixou para trás. Poeta de cordas, músico de canvas, defensor do empírico; uma pessoa tão peculiar quanto a sua música.


'The Source Family' de Maria Demopoulos e Jodi Wille

Estaria destinado que mais cedo ou mais tarde, a incrível história de Jim Baker aka Father Yod tinha de ser contada. Visão utópica de um homem imensamente consciente da sua época, e na linha da frente de um conjunto de movimentos que mais tarde viriam a ser tidos como a essência da contra cultura norte-americana, o seu nome ainda hoje permanece envolto de controvérsia.

Fundador de um culto para uns, novo movimento religioso para outros, The Source Family representou, na prática, o conceito de comuna popularizado na década de 70 -  adoptado também na Europa,  bandas germânicas como Amon Duul ou Faust embora estes com motivações basicamente socio-políticas. A criação de uma sociedade paralela, profundamente desacreditada do ‘mundo lá fora’, cuja existência se guiava num suposto caminho de auto-conhecimento assente numa relação nobre com a natureza (que levou à abertura do seu restaurante naturista Sunset Strip) e usando a música como veículo expressivo (dando origem à sua própria banda, os históricos YaHoWha 13).

Nesta viagem imersiva assinada por Demopoulos e Wile, observamos antigos membros da comunidade a discursarem abertamente sobre a sua experiência com Yod e qual o impacto nas suas vidas, revelando curiosos factos e alcançando recordações já distantes. Em complemento, surge material sonoro e visual de arquivo recuperado justamente para o efeito. Uma moldura até então incompleta que assim oficializa o conto real, deixando porém um espaço aberto para a imaginação de cada um. NA



Programação Setembro Cinema no Terraço

Quarta, 3 Setembro às 22h 

‘O Povo que Canta’ 
de Ivan Dias e Manuel Rocha


Quarta, 10 Setembro às 22h 

‘Lomax: The Songhunter’ 
de Rogier Kappers


Sexta, 12 Setembro às 21h30 -

‘A Cosmic and Earthly History of Recorded Music according to Mississippi Records’ 
Filmes, histórias & imagens da Mississippi Records e do Arquivo Alan Lomax, com apresentação de Eric Isaacson (Mississippi Records)


Quarta, 17 Setembro às 22h 

‘In Search of Joe Death: The Saga of John Fahey’ 
de James Cullingham


Quarta, 24 Setembro às 22h 

‘The Source Family’ 
de Maria Demopoulos e Jodi Wille


Entrada: 2€, excepto para a sessão de apresentação dos filmes de arquivo da Mississippi Records – 5€
Recomendamos que confirme toda a informação junto do promotor oficial deste evento. Por favor contacte-nos se detectar que existe alguma informação incorrecta.
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