23:45 até às 06:00
Noite OSTGUT TON com FUNCTION (live) e NICK HÖPPNER

Noite OSTGUT TON com FUNCTION (live) e NICK HÖPPNER

OSTGUT TON

Há labels que são como modas, aparecem, dão brado, e desaparecem sem deixar marcas duradoras. Outras, são menos dadas a caprichos (seus e do público) e persistem mais tempo mas são tão distintas de tudo o que as rodeia que parecem facas colocadas por engano numa gaveta cheia de colheres. A Ostgut Ton é muito mais que isso. Apesar de fundada apenas em 2005,  é já uma label clássica da electrónica, ao nível de uma Warp ou R&S cujo legado já não pode ser negado e que parece ainda ter pelo menos tanto para dar aos amantes do techno e do house, como o que já deu.

Claro que ser o braço editorial do Berghain/Panorama dá um jeito tremendo, colocando a label berlinense bem no epicentro do  terremoto que acordou o techno há pouco menos de uma década. A Ostgut soube criar uma marca distintiva no contexto da música de dança actual, pela consistência do que traz ao mundo, mas tem sempre mostrado o quanto é vital honrar e celebrar o seu passado para conseguir construir um futuro sólido. A lenda do techno já não se escreve sem várias referências ao Berghain e à Ostgut, e temos a certeza que ainda mais parágrafos inspirará.

Dedicar uma noite à Ostgut Ton vai por isso muito além de um mero showcase de um som e um grupo de artistas. Não é só uma noite da label de Klock, Dettmann, Steffi, Prosumer, Shed ou Luke Slater. É uma questão de cultura geral. É o Lux a capturar para a posteridade um pedaço da nossa história. A da Ostgut e de nós próprios enquanto dance-music-addicts.


FUNCTION

“Estagnar é morrer”. Com esta frase, comunicada ao mundo no último dia de 2011, o colectivo Sandwell District, liderado por Regis e Function (Dave Sumner) fazia o seu próprio funeral. Uma frase forte de quem sempre deixou bem marcadas na sua arte, as suas igualmente fortes convicções. A Sandwell District deixou marcas profundas no techno, na sua relativamente curta existência, feitas de hipnotismo, experimentalismo e negrume. Uma revolução que muitos continuam a tentar imitar sem o mesmo fulgor. Matar um projecto no auge da sua glória é um sinal de que ainda há artistas movidos por coisas que não a fama e dinheiro, e de coragem e crença em si mesmo. Sumner é um deles.

Function não nos deixou órfãos. Sempre houve demasiadas ideias na sua cabeça para que tal acontecesse e para que se permitisse a si mesmo a tal estagnação. A sua bagagem musical é muita e já vem desde a sua Nova Iorque natal, dos tempos em que começou por ser um dos DJs preferidos de Madonna enquanto residente no Limelight (sim, ele já anda nisto há esse tempo todo…), parou algum tempo, já na produção, na Synewave de Damon Wild e na sua própria Infrastructure, antes de aterrar em Berlim ainda antes da explosão do fenómeno Berghain/Ostgut. Cada passo, no entanto, só foi dado com absoluta certeza de deixar marcas : o seu 1º LP surgiu apenas o ano passado, e na Ostgut. O nome “Incubation” deixa bem claro o quão pensada foi a sua gestação. E quando veio ao mundo, cinemático, complexo, épico e emotivo, deixou bocas abertas e mentes em êxtase.

Mais do que um (aguardadissimo) live-act, aprestamo-nos a ver um universo de som de possibilidades infinitas, esplanado perante nós. Como dizia o mesmo comunicado, "vemo-nos do Outro Lado".


NICK HÖPPNER

Nick Höppner está para o edifício musical constituído pelo trio Berghain/Ostgut/Berlim, como o cimento para uma parede de tijolos. Não é certamente o elemento mais visível nessa construção, mas sem ele, nada daquilo existia, ou pelo menos não existia com a mesma solidez, consistência e durabilidade. Mas Nick é um pouco mais, neste verdadeiro feito de engenharia que é a cena techno berlinense, sendo um dos seus arquitectos fundamentais. Com doses iguais de precisão e paixão, também desenha o seu futuro. Simplicidade e sabedoria, tudo em perfeita harmonia, formam os traços definitivos da sua obra.


Obra essa que já é longa e notável e teve início bem antes do velho Ostgut (o pai do actual Berghain/Panorama), enquanto DJ respeitado da cena Berlinense, editor da agora infelizmente desaparecida revista Groove, e como metade da dupla My My. Como DJ é um defensor das longas maratonas que dão aquela “algo” extra à história contada em música, desde o house mais festivo ao techno mais meditativo. Como produtor, é um exemplar praticante de uma filosofia quase zen de abordagem à música e aos seus elementos, criando tapetes sonoros em igual medida elegantes e poderosos.


Perspectivar um set de Nick Höppner é um pouco como antever uma tempestade perfeita. Ora estamos na calma do olho do furacão, ora somos lançados num vortex de sons que nos lançam para um futuro que queremos que comece numa noite como esta. Ele próprio deixa o aviso : “eu pareço calmo, mas é mesmo só a aparência”. É deste tipo de desassossego que gostamos.

Textos Nuno Mendonça
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